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01/10/2014

O rio

#Prata da casa #Produção de alunos

O rio

Publicado em 01/10/2014 07:00

Madrugada. Com o coração interditando a garganta, desprendeu suas pernas das do marido. Preocupou-se em preencher com a colcha os vãos deixados por seu corpo. Levantou-se, atenta aos menores rangidos provocados por sua movimentação. Discreta, jogou um manto sobre o corpo, dirigiu-se para o quarto ao lado e deteve-se em frente ao berço. Inclinou-se sobre o bebê, aproximando-se o suficiente para ouvir seu respirar tranquilo. Engoliu em seco antes de tomá-lo nos braços – com o cuidado de não despertá-lo; em seguida, depositou-o sereno na cesta, envolvendo-o com um cobertor.

Embora continuasse definitivamente enclausurada, não pôde privar-se da estranha sensação de liberdade que experimentou ao pisar fora de casa. Casa. Sua. Não estava mais presa, embora ainda abrigasse a prisão nas entranhas. Sentiu-se realmente segura apenas quando se perdeu em meio às árvores. Segurança breve – durou até que se deu conta de que não estava segura de si mesma e nem do que faria a seguir. Era tarde.

Avistou o rio e resolver não hesitar – não hesitar para não desistir. Cerrou os punhos e caminhou, resoluta, até ajoelhar-se à margem das águas. Expôs o rosto da criança que, acordada, parecia em paz. O bebê não chorava em sua inocência, mas o rio chorava tanto, tanto – o rio chorava tanto que, de alguma forma, o reflexo da água no rosto infantil ocupou-se de conferir-lhe as lágrimas não choradas. Ao vê-las, a mãe sorriu o sorriso mais triste que se pode sorrir. Colocou a cesta na água com zelo, entregando o filho à indisciplina da correnteza.

Logo que a cesta escapou-lhe por entre os dedos, a mulher desatou a chorar como rio. Com a vista embaçada pelas lágrimas, viu de maneira desfocada quando a cesta virou antes de perderem-se ela e o bebê – ela no horizonte, o bebê nás águas. Quando a cesta tombou, suas lágrimas cessaram. Ela agarrou algumas pedras do solo próximo e, simbolicamente, meteu-as fundo no bolso. Atirou-se na água, mas não para ir atrás da criança.

Atirou-se na água para casar-se com o rio.

 

Obs.: Este seria um texto pior sem os palpites da Isabela Portinari e da Isabela Baptista.

 

José Henrique Ballini Luiz, 2H1

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