Alguém me disse, uma vez, que o mundo era um lugar frio e trêmulo. Explicou que se eu segurasse em sua mão talvez não caísse. Disse também que talvez me esquentasse caso seus braços conseguissem me segurar por tempo suficiente. Bom, eu repliquei, obviamente — isso era tudo que eu sabia fazer —, com uma reclamação e infinitas exclamações, quanto drama! Eu não acreditei e passei a mensagem à frente, o mundo é quente, ensolarado e firme. Bem firme. Eu deixei que suas mãos escorregassem entre meus dedos e permiti que caíssem a mercê da gravidade.
Como me arrependo. A mensagem se multiplicou tanto quanto a neve densa que cobriu nossos corações. Os românticos diriam que o amor nunca acaba, mas quem acredita no que os olhos veem e no que o corpo vive diria que na prática não era bem assim.
Bom, convenhamos que não haveria sobreviventes de qualquer forma, eram camadas e camadas de frio, um frio tão denso e cortante que nem o amor de Tristão e Isolda sobreviveria. Contudo, aquela mão, aqueles braços poderiam ter feito um papel inigualável… Um conforto sem fim na hora do fim.
“Mas o amor não tem fim”. Diríamos que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” poderia ser melhor aplicada em tal situação. O ódio que habitava meu corpo era maior que qualquer outro sentimento… Me questionava, por que não acreditei naqueles olhos tão sinceros? Então minhas mãos trêmulas à procura de um chão acharam outras mãos que me ajudaram a levantar, outros braços e outro abraço que insistiam em me esquentar, outro amor que continuou a lutar. Meu ódio então se tranformou, aos poucos, em surpresa, felicidade, dúvida, paixão, amor.
Amor. Ele voltou, amor! Passei a acreditar naquele estranho que me disse certa vez, o mundo era frio e trêmulo. Mas passei a acreditar em mim também, o mundo é quente, ensolarado e firme, basta encontrar alguém que te segure
Julia Magalhães (pseudônimo-3H3)