Análise
Maturei-me para me abrir…
Abrir meus olhos, minha mente, meu torso,
Para alcansar as víceras e o rim
E mais a fundo o coração.
Maturei-me para me dividir, me dissecar…
Compreender a hipocrisia do bicho humano.
Pensar para dentro, mais e mais a dentro
E mais e mais a fundo,
Nos confins da minha essência, do que me compõe.
Mas o meu feito ricocheteou…
E o torso aberto começou a putrefazer
E as víceras e o rim e o coração começaram a esfriar
E o que inocentemente achei que fosse benigno,
Provou-se perverso e repugnante!
E só trouxe mais confusão e mais dúvidas…
E diariamente tento sobreviver
Da minha própria hipocrisia.
E o debate infinito dentro de mim,
O ping-pong incessante, tenta descobrir no que acredito
O que é que me convence? Sou egoísta ou altruísta?
Bom ou ruim? Inteligente ou estúpido?!
Ninguém em nenhuma parte sabe responder!
Mas o barulho que não para nunca, nem nos sonhos, quer saber…
Mas não consegue, então cogito, avalio,
Desenvolvo, discuto, abranjo, rogo praga e o barulho continua…
E me encontro impossivelmente distante de tudo,
Porque a discussão me consome e me engole…
Até que desaprendi a me comunicar
E as imagens a retina passou a não processar
E os tímpanos passaram a não mais funcionar
E as pessoas passaram a ser apenas vultos na memória
E conforme não me compreendo, não compreendo ninguém
E não compreendo o ambiente e não compreendo nada!
E por mais que esteja aqui, na realidade não estou…
Estou dentro, fundo, em lugar nenhum, tentando entender.
Só tento, tento e tento!
E por mais que saiba que não vou conseguir,
E por mais que que saiba que seja em vão,
Não sei ser pragmático (mas ah, como queria ser!)
Estou preso e tudo que sei é pensar…
(Seja lá o que “pensar” for)
Pensar é a única certeza que tenho, meu único conforto…
De que não me esvaí ainda… De que de alguma forma prevaleço…
De que do nada pelo menos ganho.
Álvaro de Campos
(Amanda Derviche, 3H1)
