Devaneios sobre as gengivas
Todo poeta gosta de cantar os olhos.
Na poesia os olhos são como as bundas,
amor nacional, paixão das torcidas.
Nas faixas, a ver:
“Olhos de ressaca”… “olhos negros como a noite
que não tem luar”… “quantos naufrágios nos olhos teus”…
Olhos: preferência dos poetas!
Mas, eu? Eu prefiro as gengivas!
Há algo mais poético que uma gengivinha?
Moldura, coram-se as gengivinhas
num sorriso sincero: protagonizam os sorrisos
mais belos as gengivas…
Mas, veja bem, não falo de qualquer gengiva,
de gengivas pagãs, mas da gengivinha
da moça que conheci na festa…
Para ela entoo o canto solo pelas gengivas.
Inicio-me nesta seita dos poetas que
amam as gengivinhas das musas, das ninfas,
das moças das tardes, das noites, dos cafés…
Recriem-se os quadros! Refaça-se o Louvre!
E pintem! Pintem as gengivas!
Esse poema integra a obra Malagma, de Filipe de Gaspari, ex-aluno 2010, publicada pela Editora Paduá em 2017.