Tempos atrás, nos confins das pradarias do Rio Grande do Sul, nasceu uma criança fugaz e promissora, que já em seus primeiros anos de vida demonstrara uma determinação impressionante em se tornar rico, amado e pai de uma grande familia. Porém, mal sabia ele que, como todos os homens, estava condenado às ironias do Destino.
Pedro Guerra, filho de Antonio Carlos Guerra e Tânia Guerra, sempre se destacou mais que sua irmã mais nova, Terezinha Guerra, demonstrando maturidade e uma coleção de princípios impressionante. Com 13 anos colocou seu primeiro cigarro de palha na boca e dois anos depois já tomava conta de uma pequena plantação de tabaco em nome de seu pai. Aos 17, comprou esta mesma plantação, com o dinheiro arrecadado de seus bicos como marceneiro, escrivão judiciário e segurança noturno. Em poucos verões, após a morte de seu pai, Pedro fez de sua fazenda uma das maiores e mais rentáveis fazendas de tabaco gaúchas, para onde se mudou com sua família.
Pedro Guerra conseguia de tudo, menos uma alma gêmea. Já tinha se deitado com todas as belas gurias da região, mas a nenhuma delas se apegava. Impaciente, o rapaz foi a uma vidente para saber se estava perto de encontrar sua grande paixão. Porém, a velha nada falou sobre amor, apenas disse a Pedro que alguém de sua fazenda iria matá-lo.
A partir daí, o jovem, crente dos fenômenos paranormais, passava noites em claro temendo que lhe tirassem a vida enquanto dormia. Mandou instalar na porta e janelas de seu quarto as melhores trancas da região, que só abriam com apenas uma única chave, protegida em volta do pescoço do próprio Guerra. Mas a paranóia não parou por aí.
Ao se engasgar com um pedaço de cenoura, Pedro acusou sua mãe, que cozinhava para ele desde criança, de tentar envenená-lo e expulsou a coitada da fazenda. Meses depois, ao ver Terezinha se engraçando com um dos jovens empregados da plantação, Zé Carlos(Zeca), sem pestanejar demitiu o rapaz. Guerra desconfiava que este e sua irmã iriam se unir para matá-lo e tomar posse de suas propriedades. Quando Terezinha se pronunciou contra as atitudes do irmão, também foi expulsa. Nada conseguia parar Pedro Guerra.
O jovem promissor agora já era um velho arrogante, já tinha perdido muito da grandeza de sua fazenda. Devido à sua desconfiança, a maioria dos funcionários tinha deixado seus trabalhos e os que faltavam estavam a caminho de fazê-lo.
Pedro Guerra morreu sozinho, sentado na sua varanda com um cigarro de palha ainda aceso na mão. Causa da morte: Câncer de laringe.
Tomás Fernandes, 3H2