Eu, minha loucura e Pessoa
Alguém disse no meio da sala que não existem mais poetas como Fernando Pessoa porque hoje toda a loucura é tratada. TOC TOC. Foi um ótimo pretexto pra loucura bater na minha porta. Ela bate sempre, mas apenas por mera educação porque sempre entra, não importa o quanto eu me esforce para impedi-la. É uma visita tão indesejada que as vezes me pergunto se no fundo eu não chamei ela pra tomar um café num momento irracional. Enfim, quando disseram aquela frase eu pensei que, pela primeira vez na vida, eu poderia receber a loucura de bom grado na minha casa, oferecer um café, conversar, dar umas risadas, e depois leva-la até a porta novamente com um texto lindo na mão e me sentindo aliviada. TOC TOC. Toda hora ela aparece, eu disse. Faça. Repita. Refaça. Fosse esse o segredo de Pessoa? Ao invés de atacar, fazer uma aliança com o inimigo? O que fazer com a loucura, Fernando? Tudo o que eu já escrevi foi tentando lutar contra ela e, de repente, eu a chamaria de melhor amiga? Talvez ela só seja parte desagradável mas que, de qualquer jeito, é parte e, portanto, é importante para a minha própria complexidade. Afinal, sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia ?
Beatriz Girardi Langella, 3H2
