Promover a limpeza
De armários, gavetas,
A troca de quadros e fotos,
A queima de arquivos
Meio vivos.
Fazer a varredura de vírus
E vícios que, ainda bem,
Habitam a superfície.
Sublimar crostas e crenças,
por sorte,
soltas.
Aspergir a alfazema
Por todos os quadrantes
Da casa, criar espaços
Insuspeitados, apropriar-se
Do que sempre fora seu.
Assar o pão,
Passar o café,
Virar a página.
Lavar a louça e a alma
Acender com o mesmo fogo
As velas aos santos
E a paixão
Por si mesma, para que
As lágrimas escorram,
Mas, voláteis, alcem voo
Rumo ao sul, aonde
(não me levem) não vou.
Marise Hansen (professora de Literatura)