Exposição “A valise mexicana”: imperdível

Publicado em 30/08/16

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O fotógrafo ou o contista sentem a necessidade de escolher e limitar uma imagem ou um acontecimento que sejam significativos, que não só valham por si mesmos, mas também sejam capazes de atuar no espectador ou no leitor como uma espécie de abertura… Cortázar, 1974

A voz da causa através das lentes: São Paulo recebe a exposição A Valise Mexicana − a redescoberta dos negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Chim e Taro

guerra civil tituloVocê poderia imaginar que uma exposição chamada “A valise mexicana” fizesse referência à Guerra Civil Espanhola? É isso que você descobrirá ao visitar a exposição que ocorre na Caixa Cultural, em São Paulo (Praça da Sé, 111) de 23 de julho a 02 de outubro. Um impressionante legado de 1936 a 1939 deixado por três dos maiores fotógrafos de guerra: Robert Capa, Gerda Taro e David ‘Chim’ Seymour. Depois de haver passado pelos Estados Unidos, Espanha, França, México e Hungria, a exposição chega pela primeira vez à América do Sul.

Durante quase 70 anos, os 4.500 negativos desses grandes fotógrafos permaneceram desaparecidos, até que em 2007 chegaram ao International Center of Photography (ICP), Nova York, dispostos em três caixas vindas do México, as então denominadas valises mexicanas. Não se sabe ao certo o trajeto percorrido pelo material coletado por Capa, Taro e Chim, mas o mistério teve início quando o primeiro teve de abandoná-lo: as forças alemãs se aproximavam de Paris, e Capa temia ser preso como inimigo estrangeiro ou simpatizante comunista (Cynthia Young, 2016).

Além das fotos, o visitante pode ter acesso as matérias publicadas em revistas francesas e norte-americanas sobre a Guerra Civil Espanhola. Dispostas em gavetas que dialogam com as sequências dos negativos, estas constituem parte importante da mostra, pois permitem o contato com as interpretações estrangeiras acerca do conflito. guerra civil jornais

 

 

 

 

 

As fotos e o conflito

guerra civil_1Valência, maio de 1937. Após o ataque aéreo nacionalista, milhares de civis se dirigem ao necrotério da cidade em busca de informações sobre os familiares desaparecidos. O registro, feito pela jovem fotógrafa Gerda Taro, documenta não apenas os olhares aflitos “daqueles que haviam se tornado o principal alvo das forças inimigas” (Cynthia Young, 2016), como também um dos desdobramentos da Guerra Civil Espanhola.

Segundo o célebre historiador francês Pierre Vilar (1989), o conflito, compreendido entre julho de 1936 e março de 1939, foi “antes de mais nada uma conspiração militar” que posteriormente garantiu poderes políticos ao general Francisco Franco. Nesta época, a república e o presidencialismo eram a forma e o sistema de governo vigentes na Espanha, que agora estava fragmentada em duas vertentes ideológicas: de um lado “os servidores de Deus, defensores do capital e do Antigo Regime, do outro os inimigos de Deus e a organização da Revolução” (p. 24, A Guerra da Espanha, 1989).

A descrição de Vilar não é aleatória, pois o autor ainda reforça que na Espanha a Igreja sempre esteve ao lado dos poderosos. Era o símbolo de garantia das oligarquias e também do enquadramento ideológico e moral de Franco (p.79).

A fim de nos aproximar deste contexto, a exposição A Valise Mexicana: a redescoberta dos negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Chim e Taro chega a São Paulo. Após 80 anos, as lentes dos três fotojornalistas de guerra nos apresentam a causa republicana e as consequências dos cruéis ataques nacionalistas. Naquele momento era necessário se posicionar contra o avanço das forças totalitaristas, assim como em defesa da reforma agrária e das artes.

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Cabe ressaltar que o fio condutor do acervo parece residir para além da documentação de guerra e a expressão de uma causa. Ele se encontra justamente na sensibilidade: seja dos olhares dos civis ou do cotidiano nas trincheiras. Isto porque a faceta de cada fotógrafo é capaz de torná-la completa. Para a curadora Cynthia Young, “enquanto Capa e Taro procuraram fotografar as linhas de frente, Chim destaca o indivíduo fora da batalha, desde retratos formais de pessoas importantes até soldados em suas casas e camponeses trabalhando em cidades pequenas”.

 

 

Exposição A Valise Mexicana: a redescoberta dos negativos da Guerra Civil Espanhola Mexicana de Capa, Chim e Taro

ONDE: Caixa Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111, próximo à estação do Metrô Sé).

QUANDO: até 2 de outubro de 2016, de terça-feira a domingo, das 9h às 19h.

QUANTO: Grátis.

Não recomendado para menores de 10 anos.

Maiores informações: (11) 3321-4400.

 

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