Do Band a Harvard: A importância da Ciência

Publicado em 10/07/20

Querido leitor,

Espero que você e sua família estejam bem! Hoje vou contar um pouco sobre como têm sido minhas atividades no laboratório. Para começar, o meu laboratório produz pesquisa básica. O termo “pesquisa básica” é empregado para a produção científica que gera conhecimento que não necessariamente tem uma aplicação prática. Na área biomédica, as descobertas podem levar a um entendimento maior de processos biológicos, ou podem algum dia serem usados como medicamentos, entre outras aplicações. Porém, na grande maioria das vezes, uma descoberta de pesquisa básica é apenas um achado que não tem nem terá impacto direto na medicina. 

Apesar dessa aparente “inutilidade”, a pesquisa básica é fundamental para o desenvolvimento da ciência. Sem ela, não existiria a pesquisa aplicada (também conhecida como pesquisa clínica), já que não seriam gerados conhecimentos novos. Um exemplo disso são os estudos de Louis Pasteur, que ajudaram a estabelecer a relação entre germes e doenças. Saber dessa relação de causalidade mudou completamente o mundo e é impossível imaginar o que seria da medicina sem essa descoberta.

A pesquisa básica é o primeiro passo na pesquisa na área da saúde. 

Fonte: https://victr.vumc.org/translational-research/


Voltando ao meu laboratório, o meu grupo estuda doenças cardiovasculares (a maior causa de mortes no mundo ocidental), em especial a aterosclerose. Nós estamos tentando descrever mecanismos de desenvolvimento da doença a nível molecular e tem sido muito interessante saber mais sobre o assunto. Tenho aprendido técnicas de biologia molecular, como extração de RNA e RT-qPCR, e outras técnicas de laboratório, como isolamento de PBMC (células mononucleares do sangue periférico – peripheral blood mononuclear cells) e manutenção de cultura de células. 

Placa de RT-qPCR que permite analisar a expressão de genes e outras moléculas em células ou tecidos. É a mesma técnica usada para diagnóstico do COVID-19. 

Foto de microscópio de uma cultura de células 

Além disso, tenho sido incentivado a ler artigos científicos, treinar escrita científica e a planejar projetos de pesquisa. Tenho muita sorte de ter a oportunidade de aprender tanto a parte intelectual da pesquisa, quanto a parte da bancada (como chamamos informalmente as técnicas laboratoriais). Sinto que aprendo algo novo quase todo dia, e isso é bem motivador!
Estar imerso em um ambiente dedicado exclusivamente à pesquisa tem sido um grande aprendizado e com certeza está sendo um dos maiores ganhos deste ano de intercâmbio. Tenho visto como é trabalhoso e custoso produzir ciência de qualidade, ainda mais sabendo que a maioria dos achados não vão ser transformados em algo prático. Porém, é incrível ver quando as descobertas impactam diretamente a nossa vida. Alguns dos chefes dos laboratórios da Harvard Medical School são os autores de livros que usamos para estudar medicina hoje em dia, e vários outros serão os futuros autores dos livros que vão ser a referência algum dia. É um grande privilégio estar nesse meio.

 Vivendo tudo isso, é uma pena ver como nosso país não valoriza a pesquisa básica, e a ciência como um todo. Não sei se é por vermos ciência como um investimento sem propósito ou sem retorno imediato, mas por qualquer que seja a razão, deixamos de colher os frutos que poderiam ser gerados. Vejo muitos brasileiros em laboratórios aqui, que após anos de formação acadêmica no Brasil, vem para os Estados Unidos, justo no momento que iniciam a sua produção científica de fato. A “fuga de cérebros” é bem compreensível, visto que faltam recursos disponíveis para viver de e fazer ciência no Brasil.  

Gráfico mostrando a queda de investimento governamental em ciência e tecnologia no Brasil. 

Fonte: https://www.nature.com/news/brazilian-scientists-reeling-as-federal-funds-slashed-by-nearly-half-1.21766

 

Gráfico mostrando a queda de investimento no NIH (National Institutes of Health), uma das principais agências de fomento a pesquisa na área médica. Mesmo assim, o investimento em ciência continua sendo muito maior do que no Brasil. 

Fonte:  https://www.americanprogress.org/issues/economy/reports/2014/03/25/86369/erosion-of-funding-for-the-national-institutes-of-health-threatens-u-s-leadership-in-biomedical-research/


Ver com meus próprios olhos e entender o que realmente significa a fuga de cérebros, me faz acreditar cada dia mais que, para que o Brasil se torne um país desenvolvido, é preciso investir (e muito) em educação e ciência. Ver com meus próprios olhos cientistas brasileiros produzindo ciência de qualidade me faz acreditar que, sim, nosso povo e nosso país tem um grande potencial para mudar a situação atual. Espero que nós vejamos e façamos parte dessa mudança em breve!

Até logo,

Lucas.

Lucas Umesaki se formou no Colégio Bandeirantes em 2015, e desde 2017 é aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Neste ano, terá o privilégio de vivenciar um dos principais centros de pesquisa do mundo em um programa de intercâmbio. Atualmente é Research Trainee no Brigham and Women’s Hospital, um dos hospitais filiados a Harvard Medical School.

Temas relacionados: ,
Compartilhe por aí!
Use suas redes para contar o quanto o Band é legal!

mais de Do Band a Harvard