Mauro Aguiar explica mudanças importantes no Bandeirantes

Publicado em 15/06/16

“O desafio é agir antes que a onda quebre e todo mundo pense: ‘É isso mesmo? Por que eu não pensei nisso antes?‘. Dessa maneira, o Diretor Presidente do Bandeirantes, Mauro de Salles Aguiar, explica a importância das mudanças na Matriz Curricular, na gestão e organização interna do Bandeirantes a fim de encarar os desafios deste tempo e antecipar os desafios que estão por vir.
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A maneira como os seres humanos se relacionam no dia a dia, a forma como o universo do trabalho se organiza e como a sociedade reage às mudanças sofreram transformações rápidas e profundas nos últimos quinze anos. Um Colégio que propõe uma formação humanista, complexa e conectada ao mundo contemporâneo tem o dever de acompanhar essas mudanças fazendo da educação um processo vivo e relevante ao aluno.
O Bandeirantes mantém, desde sua fundação, a característica de não se intimidar perante os desafios. Quando Mauro Aguiar assumiu a diretoria da instituição, essa característica só se aprofundou. “Lembro-me de que, quando eu era aluno, no tempo dos Beatles, o Colégio sempre permitiu que os estudantes usassem cabelos longos; quando a minissaia surgiu, o Band também não a proibiu como outros colégios o fizeram; sempre acompanhamos o mundo.”, conta. “Quando já era diretor, conheci o livro ‘MegaTrends’, do John Naisbitt, e o tornei leitura obrigatória a todos os Coordenadores, pois ele ditava as tendências que a educação seguiria”, explica.
Assim, o processo de internacionalização do Colégio, o nascimento do currículo Steam, dentre outras tendências, foram lideradas pelo Diretor Presidente que aposta: “Se os tempos mudam, o ambiente escolar deve mudar para manter-se relevante – sem deixar de ser fiel aos seus princípios.”.
Acompanhe a entrevista com Mauro Aguiar, por tópicos. Basta clicar na pergunta para ler a respectiva resposta.
1) O que o levou a repensar a divisão de classes por desempenho, uma característica do Band, que não existirá mais no novo currículo?
2) Por que abolir a divisão por áreas no novo currículo?
3) Os laboratórios STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Maths) é uma tendência no mundo todo, uma maneira de acabar com o isolamento das disciplinas e estimular a cultura do “fazer” . Como o Band adotou essa tendência?
4) Como o STEAM vai influenciar a formação dos professores e alterar a própria estrutura do Band?
5) Falando no aluno, como escutar e atender suas demandas? Há novidades nesse campo?
6) Se olharmos o Bandeirantes há dez anos e hoje vemos um Colégio totalmente internacional. 2016 foi o ano em que mais houve aprovações de alunos fora do Brasil. Qual a importância disso?
7) E o trabalho de comunicação e mídias dentro de Língua Portuguesa, como se insere nessas inovações?
8) Em suma, qual o diálogo direto de todas essas novidades com o mundo fora da escola?

1) O que o levou a repensar a divisão de classes por desempenho, uma característica do Band, que não existirá mais no novo currículo?

Não existe modelo ideal. Cada qual tem perdas e ganhos. Mas temos que considerar sempre a época em que vivemos. Quando esse modelo foi implantando, havia um reinado dos vestibulares extremamente conteudistas, um universo muito restrito de faculdades e universidades boas, praticamente não existiam opções para os alunos.
A grande perda e o grande perigo ao montar uma classe heterogênea internamente, como já fazemos há muitos anos no Fundamental 2, naquela época, é que se corria um risco de alunos menos motivados dominarem o ritmo da classe. Quando se falava de Ensino Médio, próximo do vestibular, o aluno que realmente queria entrar na faculdade poderia ficar impedido de evoluir. Por muitos anos nós achamos que a divisão era compatível com o Fundamental 2, mas nós percebemos que os pontos negativos sobrepunham-se aos positivos e, por isso, mantivemos apenas no Ensino Médio.
Mas a sociedade hoje não é a mesma de vinte anos atrás, as demandas mudaram muito. O mundo do trabalho mudou substancialmente. Surgiram novos processos seletivos, de extrema qualidade e com metodologias totalmente diferentes, como são os casos do direito FGV, Unicamp e PUC, que se diferenciam da FUVEST em uma tendência a buscar novas habilidades e competências. Daí a necessidade de atualizar o Colégio.
A verdade é que este modelo de divisão por desempenho vai se tornando bastante incompatível com os aspectos da vida moderna. A acirrada competição que você cria, por exemplo, é uma perda. Muitas vezes isso vai na contramão das habilidades de trabalho em equipe, cooperativo, que é a essência do trabalho do novo currículo.

2) E por que abolir a divisão por áreas no novo currículo?

Isso é um legado da FUVEST, que ainda é um carro chefe no Colégio. Mas gera uma precoce especialização, que entra na contramão da educação e da sociedade modernas.
O que acontecerá é que muitos cursos extracurriculares se tornarão “eletivas”. O aluno pode escolher o caminho dele. Assim, o Colégio entrega um currículo forte, em que o aluno é competitivo para a primeira fase da FUVEST. Para a segunda fase, ele escolhe o caminho dele. Se ele quiser fazer Engenharia, é bom que ele faça as eletivas de cursos avançados em Física e Matemática, por exemplo. Se ele quiser Medicina, é bom que ele faça cursos avançados em Física e Biologia. Então abrem-se essas possibilidades. A ideia é que o aluno possa entrar onde ele quiser.

3) Os laboratórios STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Maths) é uma tendência no mundo todo, uma maneira de acabar com o isolamento das disciplinas e estimular a cultura do “fazer” . Como o Band adotou essa tendência?

Mudamos porque percebemos que batemos no teto. Ou seja, para melhorar, era necessário mudar, porque naquele modelo de currículo já tínhamos esgotado todas as possibilidades.
É a ideia da integralidade do conhecimento. Foram dois anos de muito trabalho de preparação, aula por aula, realizadas algumas vezes antes da estreia com a colaboração de alunos e professores. Mas nada como a experiência de campo. Isso tudo vai ser muito melhorado e aperfeiçoado ano após ano. Temos um time de professores muito bom, de diferentes idades e muito dispostos.
Por exemplo, este bimestre estão realizando uma experiência sobre espectros de cores, em que entra Física e Arte. Nesse caso, um professor está aprendendo com o outro e ambos estão aprendendo com o aluno no desenvolvimento do projeto. Isso é de uma riqueza imensa.

4) Como o STEAM vai influenciar a formação dos professores e alterar a própria estrutura do Band?

Os professores reportam para nós uma crescente dificuldade de dar uma aula no sentido mais tradicional. Quero dizer, mesmo profissionais competentes têm que gastar cada vez mais do tempo dele para acalmar a turma e começar a aula. Enfim, vivemos em uma outra sociedade. Então é preciso fazer diferente. O professor está mudando sua forma de trabalhar com o aluno. Assumindo um papel de coach, muito mais nobre e muito mais importante que o anterior.
Quando Robert Reich foi secretário do trabalho de Bill Clinton, ele escreveu um livro que tratava exatamente sobre esse mundo do trabalho em que nós estamos inseridos (mais colaborativo, mas não menos competitivo), e ele já previa uma revolução no sistema educacional americano, a disrupção. O STEAM, de uma forma intuitiva, surgiu quando começamos a trazer o “externo” para dentro do Bandeirantes, há uns 10 anos, com cursos como CPG (Convivência em Processo de Grupo), Idade Mídia, Monu-EM, Biotecnologia, dentre outros. Os professores já se viam desafiados nesses modelos.
Quanto à estrutura, em 2017, o 3.o andar estará todo reformulado; os espaços serão abertos e móveis. Em 2018, os laboratórios de Química também serão todos reformados. A nossa parte de Esporte também vai melhorar muito já a partir do próximo ano.

5) Falando no aluno, como escutar a atender suas demandas? Há novidades nesse campo?

A educadora da Unicamp Telma Vinha tem feito um trabalho importante junto aos professores nesse sentido, as chamadas “rodas de diálogo”.
Todo o conceito de desenvolvimento moral, que seria tentar transformar a relação da escola com os alunos numa democracia de padrão civilizatório alto, não é fácil. A nossa sociedade não funciona dessa forma, muito menos a escola funciona assim. A escola é uma instituição autoritária, mesmo dentro de sociedades democráticas. Mas as pessoas querem ser protagonistas dos processos, não querem ficar sentadas só ouvindo e trabalhando! Nessas “rodas de diálogo”, a cooperação e o senso de pertencimento são importantes e os alunos são escutados. Suas demandas são transmitidas a quem pode atendê-las.

6) Se olharmos o Bandeirantes há dez anos e hoje vemos um Colégio totalmente internacional. 2016 foi o ano em que mais houve aprovações de alunos fora do Brasil. Qual a importância disso?

O mundo é global e temos um departamento só para olhar para essa questão. Essa semente foi plantada em 1988. Nós decidimos que o inglês do Band não seria “Inglês de Colégio”, como dizem os próprios alunos. E como fazem as escolas de inglês para ter um ensino de língua diferenciado? Trazem professor dos Estados Unidos, mandam professor para o exterior. Foi o que fizemos. Todos os anos nós vamos para o os principais congressos do mundo em línguas. Somos credenciados para aplicar os exames internacionais, o SAT e o ACT. O ensino do Espanhol surgiu da mesma necessidade; hoje somos credenciados para fazer o exame DELE.
Aos poucos, começamos a sentir um pequeno aumento na procura dos estudantes para estudar fora e demos apoio para isso e agora nós temos essa vertente que hoje já é uma demanda de mercado. O Bandeirantes segue um currículo nacional, mas é uma instituição totalmente internacional.
Outro ponto importante é a presença de professores de todas as disciplinas em congressos fora do Brasil, além de mestrados e doutorados financiados por nós, trazendo novidades para todas as áreas.

7) E o trabalho de comunicação e mídias na disciplina de Língua Portuguesa, como se insere nessas inovações?

Esse projeto é muito importante. A Oficina de Mídias é uma forma de aplicação prática dos conteúdos de Língua Portuguesa estudados em sala de aula. A Língua Portuguesa é a estrutura de todo o ensino; mas, quando relacionada a outras práticas, desenvolvendo a expressão do aluno nas diversas mídias, torna-se fundamental para o aluno que vai trabalhar em qualquer área.
O núcleo de Humanas, que está sendo formado por Filosofia, Sociologia e CPG, com uma carga boa interdisciplinar, também é um projeto de ponta aqui dentro.

8) Em suma, qual o diálogo direto de todas essas novidades com o mundo fora da escola?

Na opinião de muitos especialistas e muito na minha opinião, a grande questão é que as competências e habilidades necessárias para ser uma pessoa bem-sucedida estão mudando. Hoje, as pessoas brilhantes são as que têm a capacidade de agregar, criar, improvisar, que pegam um conhecimento aqui, juntam e fazem pontes com outro lá. São essas pessoas que estão captando e gerando riqueza. Vê-se, com isso, um deslocamento da riqueza das famílias tradicionais da indústria para a tecnologia, por exemplo. Este é o mundo em que vivemos, e é para ele que o Bandeirantes trabalha com seus alunos.

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