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05/02/2010

Discurso do Patrono – Rodrigo Vasconcelos Borges

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Discurso do Patrono – Rodrigo Vasconcelos Borges

Publicado em 05/02/2010 10:18

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Inicialmente gostaria de parabenizar os formandos por terem concluído o curso no Bandeirantes, apenas quem passou por isso sabe o quanto é difícil de concluí-lo. Gostaria de agradecer o convite para ser o orador dessa turma, por ser um ex Band me traz muito orgulho o reconhecimento.

Quando recebi o convite de ser o Orador da Tuma dos formandos do Colégio Bandeirantes de 2009 pensei como em alguns minutos poderia ser o mais inspirador e desafiador para esses jovens brilhantes que todo ano o Bandeirantes forma. Para isso gostaria de contar uma história, história real que a vivi na construção de minha empresa, e  apresentar um pouco de como vejo as oportunidades e responsabilidades para esta nova geração.

A Minha História
DSC07266Em 29 de setembro de 2009 o maior grupo de mídia da África do Sul anuncia a compra de 91% da empresa BuscaPé por 342 milhões de dólares, o que viria a ser o terceiro maior negócio da Internet no Brasil e o maior negócio depois da bolha de 2000. Tal negócio grandioso teve uma origem bem simplista e romântica, três jovens estudantes de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica de São Paulo, Rodrigo Borges, Romero Rodrigues e Ronaldo Morita e um Administrador da Fundação Getulio Vargas, Mário Letelier, que também é um Bandeirantes, onze anos antes decidiram que iriam criar seu próprio negócio, em um setor totalmente novo, a Internet. O projeto, um comparador de preços, naquela época fazia pouco ou nenhum sentido para a maioria dos amigos ou familiares que tentávamos explicar do que se tratava, o mercado ignorava nossa presença, os poucos que atendiam nossa ligação não nos davam a mínima atenção, “como assim quatro estudantes de faculdade, querem o preço dos meus produtos para comparar com dos meus concorrentes na Internet, eu não vou dar de forma alguma!”, há onze anos o desafio de se criar um sistema que ninguém no mundo havia concebido até então, por quatro estudantes, que não tinham experiência de mercado parecia loucura. Louco, fiquem atentos quando ouvirem essa palavra, pois ai se escondem as maiores oportunidades.

Talvez se fosse hoje, e sabendo de todos os desafios que teríamos que passar, pensaríamos duas vezes antes de começar esse projeto mas, naquela época, a ingenuidade e o brilho nos olhos de estar fazendo algo novo e nosso foi muito maior que qualquer dificuldade. Durante o período de um ano, entre 98 e 99,  estudávamos no parte da manhã, trabalhávamos em um estágio de tarde e programávamos o software do BuscaPé ao longo da noite e madrugada a dentro. Não foram raras as vezes que acordava as seis às manhã dormindo sobre o teclado do computador, e os meus sócios mandando mensagens no ICQ (o Messenger daquela  época) comentando – Acho que ele apagou.

No meio de 99 estávamos com tudo pronto para o lançamento, Para isso contamos com alguns amigos que nos ajudaram, muito deles amigos da época de colegial do Band, entre eles o Alexandre Messa, vulgo Geléia, que estudava jornalismo e nos ajudou preparando todo o release que enviarmos para as assessorias de imprensa, o Igor Nascimento, que estudava direito e ajudou com toda a papelada para abertura da empresa. Mas todos os amigos nos ajudaram a divulgar o site do BuscaPé, o que na Internet é fantástico, pois a indicação boca-a-boca é muito forte.

Agora olhem para os seus lados e vejam, esses seus amigos, que talvez foram os melhores nos últimos 3 anos, provavelmente serão os melhores nos próximos 30 anos e com eles que vocês contarão e confiarão para os seus projetos futuros.
Após isso recebemos um round de investimento de um fundo de Venture Capital, logo em seguida um aporte de dois bancos, sobrevivemos o estouro da Bolha de Internet em 2001 e colocamos a empresa no azul em 2002.

Com o amadurecimento do mercado, o aumento da penetração de banda larga e o e-commerce se tornando um modelo de fato para as grandes empresas, nossa empresa crescia mais de 100% ao ano, tínhamos de contratar dezenas de funcionários todos os meses, gerenciar faturamento, carteira de clientes, pagamento de fornecedores, reportar para o conselho de acionistas, e tudo isso em menos de 2 anos de empresa. Como 4 jovens inexperientes conseguiram isso? Com muito bom senso, capacidade e vontade de aprender.

Com bom senso, que nada mais é que aplicar todo conhecimento de uma forma racional, e por mais que não exista uma fórmula perfeita que dê exatamente a resposta que você precisa, você estará tomando a decisão acertada. Na vida as escolhas dificilmente são entre zero ou um, preto ou branco e sim um imenso e infinito universo de tons de cinza que você pode optar, tomar mais decisões acertadas definirá o grau de sucesso que você obterá. Agora se condensarmos tudo o que vocês aprenderam nos últimos 3 anos e pudéssemos dizer em um único termo eu diria que vocês aprenderam a ter bom senso.

Aprender a aprender, essa foi uma das características mais marcantes para mim no Band, durante todo tempo não tive aulas de português, história, geografia, matemática ou física, estava aprendendo como estudar, sendo desafiado a cada instante em como interpretar e entender determinado assunto, de certa forma estavam nos ensinando como sermos autodidatas, como aprendemos com nossos professores, colegas e pais, e por fim como extraímos um conhecimento e entendemos o valor prático daquilo, e acreditem não é uma aula, ou um professor, um laboratório, e sim todo o conjunto dessa obra que forma essa característica do nosso colégio.

Essa capacidade de aprender fez toda a diferença na minha vida e carreira, fez com que com menos de 23 anos estivesse contratando e entrevistando diversos profissionais, muitos com experiência maior que a minha, gerenciando uma equipe de dezenas de engenheiros, sendo que eu não havia me formado ainda, e negociando com os maiores bancos de investimento para serem sócios do BuscaPé.

Nossos Desafios
Robert Metcalfe, o inventor da Ethernet, concluiu que o valor de uma rede aumenta ao quadrado a cada novo membro que se conecta nela, David Reed, um outros estudioso de efeitos de rede, propôs que o efeito de rede deveria ser ainda maior que o proposto por Metcalfe: dois elevado ao número de participantes nela. Independente de quem esteja correto vocês estarão vivendo uma era fantástica onde milhões de mudanças acontecem no mesmo instante, todos conectados a uma rede, que alem de diminuir as distâncias coloca milhões de pessoas brilhantes ao redor do mundo conectados e trabalhando em conjunto no mesmo projeto aumentando a taxa de inovação a um volume nunca antes imaginado.

E vocês estarão fazendo parte disso, consciente ou inconscientemente, estarão fazendo uso e contribuindo para que isso se torne cada vez maior.

Contudo, apesar dos grandes avanços macro econômicos em nosso país, sendo internacionalmente reconhecido pelas melhorias econômicas e o crescimento consistente de nosso produto interno, existe um abismo social que impossibilita que grande parte de nossa população tenha acesso a esses avanços tecnológicos e façam parte desse debate. Nós temos uma dívida moral com nosso país de tentar diminuir essas desigualdades, promover o acesso à educação a todos os níveis sociais. Vocês verão a facilidade com que entrarão nas melhores faculdades, e depois serão literalmente caçados pelas melhores empresas para fazerem parte de seus times. Apesar dessa vantagem relativa de fazer parte de uma elite intelectual, verão que essas vantagens são pequenas tanto na sua vida social como profissional, muitas vezes vocês terão que contratar e trabalhar com pessoas totalmente despreparadas, com pouca ou nenhuma formação de qualidade.

Nosso país não crescerá mais, não por falta de recursos naturais, produção de energia ou capital para financiamento: o maior limitador será a qualificação da nossa mão de obra. Nos não podemos deixar de contribuir para diminuir as desigualdades sociais.

Nos próximos quatro ou cinco  anos, dependendo do curso que escolherem,  vocês estarão participando de uma incrível jornada que é o período universitário, não desperdice nenhum momento dela, não só as aulas, o aprendizado que os professores podem passar e o estudo de conceitos práticos que serão aplicados em suas carreiras, mas também das dezenas de novas amizades que encontrarão, das festas que participarão, e até dos trotes que tomarão ao ingressarem, esses serão momentos únicos de suas vidas!

Aproveitem!

Acreditem em seus sonhos, confiem em sua capacidade de tomar as decisões certas e não se preocupem em falhar. As vezes vocês carregam muita expectativa,  criada pela família, amigos ou vocês próprios, e por isso temem falharem e se decepcionarem. Nunca se acomodem, sempre estejam fora da suas zonas de conforto: isso fará com que vocês estejam sempre crescendo. E por fim, nunca percam esse brilho nos olhos que a juventude carrega, essa curiosidade e vontade de viver podem mudar o mundo.

Gostaria de terminar esse discurso com uma frase que me marcou ao longo desses anos, e sempre que tenho uma idéia nova me lembro dela.

Ouvi uma vez de uns dos maiores empresários do país, Jorge Paulo Lehman, dizer que “Pensar grande dá exatamente o mesmo trabalho que pensar pequeno”. Então vamos pensar grande e transformar essa nação na melhor nação do mundo, isto só depende de vocês.

Boa Sorte!
Rodrigo Vasconcelos Borges

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