Essa semana vou contar mais um pouquinho da minha rotina dentro do laboratório em Harvard, assim vocês podem ter uma ideia do que significa, exatamente, fazer pesquisa aqui.
O primeiro passo em qualquer trabalho científico consiste em realizar muita pesquisa sobre o assunto para compreender o que nós já sabemos e quais são as possíveis áreas que merecem mais estudos. Depois de identificar algum tema de interesse, o cientista deve criar uma hipótese, ou seja, deve tentar prever o que vai acontecer. Essa previsão nunca é apenas um “chute”, mas baseada em todo o conhecimento já produzido.
Depois disso começa a parte trabalhosa… temos que provar se essa hipótese é verdadeira ou não. Existem diversas formas de testar uma mesma hipótese. Assim, é essencial pensar com calma qual a forma mais fácil e que terá os melhores resultados. Caso contrário, você pode gastar um grande tempo e dinheiro e no final não conseguir provar sua hipótese.
Como vocês devem se lembrar, o meu projeto principal nesse começo do ano está relacionado com deficiência de zinco e a maior mortalidade em pacientes que estão em ventilação mecânica na UTI. Para isso nós vamos analisar primeiramente como é a fisiologia do zinco no corpo. Ou seja, como ele é absorvido, quanto é absorvido, para onde ele vai… tudo isso.
Como a minha hipótese é que a deficiência de zinco pode ser maléfica, desenhamos um modelo de estudo em que existem camundongos que são muito deficientes em zinco, um pouco deficientes e normais. Assim poderemos comparar como o zinco se comporta em todas essas situações.
Outro ponto importante na pesquisa é que é necessário um grande número de casos para provar estatisticamente que a hipótese é válida. Não podemos realizar o estudo com 3 camundongos e supor que seja igual para todos os outros. Assim, no meu experimento, eu tenho nada menos do que 144 camundongos divididos nos 3 grupos de deficiência de zinco. Sim, são muitos animais!
O primeiro problema que tive foi para identificar os animais. Não podemos confundir eles durante o estudo, pois cada um será de um grupo e serão realizados procedimentos específicos. O método que utilizamos foi a realização de furos nas orelhas dos ratos. Além disso, resolvi pintar o rabo deles cada um de uma cor. Ou seja, sempre o primeiro animal da gaiola é vermelho, o segundo verde… desse jeito fica muito mais rápido achá-los. No papel, tudo parece muito fácil e direto, mas quando você tem tantos camundongos na sua frente, procurar um deles é como achar uma agulha em um palheiro!
Resolvido esse problema tínhamos que deixar os ratos deficientes em zinco. Assim, por 3 semanas eles foram alimentados com uma dieta especial para atingir o status de zinco desejado. Nessas semanas o meu trabalho era garantir que eles teriam alimentação adequada e que eram pesados semanalmente para analisar a perda de peso nos animais deficientes.
Nesse período que o trabalho está no início e não temos tantas coisas para fazer, o meu orientador, Dr. Brain, propôs que escrevêssemos uma revisão de literatura sobre o tema de microbioma e pulmão. Certamente está sendo um grande desafio intelectual e estou aprendendo muito ao escrever do lado de pessoas tão competentes.
Nas próximas semanas iremos injetar zinco radioativo e depois faremos o sacrifício deles para analisar cada um dos tecidos. Conforme o andamento da pesquisa, vou contando os novos desafios e resultados encontrados.
Até a próxima!
Leonardo Pipek
Os alunos formados no Band em 2014, Giovanna Pedreira e Leonardo Pipek, estão tendo uma oportunidade única! Em um programa de intercâmbio da Faculdade de Medicina da USP e da Harvard University, os dois passarão um ano estudando em Boston. Confira o Blog dos estudantes que será atualizado toda semana!