O físico sente escorrer pelo nariz e pelo queixo
a gota que cai e o faz pensar
Sobre a tensão superficial que faz a gota ser uma esfera, e sobre o atrito do ar que a deforma levemente. Sobre a força gravitacional, que a faz percorrer, no segundo milésimo de queda, três vezes mais espaço do que percorreu no primeiro milésimo, e sobre como percorrerá uma sucessão-de-números-ímpares mais espaço a cada milésimo seguinte, e sobre como a tal sucessão não é infinita, mesmo que a gota caísse indefinidamente com as mesmas condições e gravidade, pois eventualmente a gota chegaria próxima da velocidade da luz, e então a sua massa…
A gota chega ao chão, e ele acorda de seu devaneio.
Sente suas costas reclamarem da posição desconfortável em que estiveram por horas.
Sente em seus pulsos a corda áspera que o prende.
Sente em suas vísceras um resquício da ultima pancada.
Sente em sua testa outra gota de sangue se formando na pele esfolada,
tão interessante quanto a última,
tão dispersiva quanto um poema
Giulio Sucar Pregnolato, ex-aluno da turma de 2012