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14/10/2015

Do mundo a Harvard

Do mundo a Harvard

Publicado em 14/10/2015 20:42

Tenho recebido algumas perguntas do tipo mas, Carol, eu não faço a mesma faculdade que você, há outros meios de chegar em Harvard/nos EUA?; Há alternativas se a minha faculdade não tiver nenhum programa como a sua?. Pensando nisso, resolvi ir atrás de outros brasileiros que moram aqui nos Estados Unidos, que fazem ou fizeram intercâmbio, não só em Harvard, mas em outras faculdades e contar a história deles.

Vou contar, nesse post, a história de dois meninos que, cada um da sua forma, acabaram em Harvard.

Yuri, hoje com 28 anos, começou cedo seu percurso até aqui e jamais imaginou que o desfecho seria esse. Joga tênis desde os 13, quando morava em uma academia no interior de São Paulo. Em 2004, com 17 anos, conseguiu uma bolsa para jogar e morar em Murray (Kentucky). Começou, então, seu undergrad, com major em biologia e minor em computer sciences.

Yuri jogando tênis pela sua universidade

Yuri jogando tênis pela sua universidade

Aqui cabe um parênteses para explicar, mais ou menos, como funciona o sistema de ensino nos Estados Unidos. Acabando o high school, o próximo passo é fazer o College, onde você escolhe um major e um minor. São 4 anos e, depois disso, você pode ou não escolher fazer um grad. Se essa for a escolha, você tem que passar pelo processo de seleção de novo. Com medicina, por exemplo, são 4 anos de undergrad e 4 de grad (a medical school propriamente dita).

Ele conta que, no final do 3º ano, já sabia que não seguiria a carreira de tenista. Quando se formou, foi para a Universidade da Flórida fazer um P.H.D. em bioquímica. Durante o P.H.D., percebeu que o assunto “ doenças e sintomas” lhe trazia muito mais interesse do que bioquímica propriamente dita. Decidiu, então, que queria entrar na faculdade de medicina. Assim, começou a se dedicar a certos pré requisitos que ele sabia que dele seriam exigidos para ter sucesso.

Aqui cabe outro parênteses. O sistema de seleção deles é bem diferente do nosso. Não existe o tão temido vestibular. Existe, sim, uma prova, o MCAT, mas não é a única coisa. É um sistema mais completo, em que seu histórico escolar é analisado, assim como atividades extracurriculares. Um personal statement (uma espécie de carta motivacional) também é exigido. A fase final é uma entrevista. No caso de Harvard, 7 mil pessoas, mais ou menos, se inscrevem, das quais 900 em média são chamadas para entrevista e, apenas 160 são selecionadas.

Yuri conta que, para se preparar, se dedicou a atividades como trabalho voluntário e acompanhar médicos no hospital, mas acha que o fato de ter feito um P.H.D. ajudou muito, pois, segundo ele, o foco da Harvard Medical School é mais medical research (pesquisa) e não tanto primary care (clínica) Na entrevista, conta que foi valorizado o “de onde ele veio e onde ele chegou”, o salto que ele deu. Hoje ele está começando o segundo ano dos 4 da medical school, se considera adaptado e não pensa mais em voltar ao Brasil. Quando perguntado sobre as dificuldades, diz que, no começo, pensou muitas vezes em desistir, principalmente quando morava em Kentucky, onde acredita que havia bastante preconceito.

Igor, 22 anos, nasceu em Vitória e, atualmente, mora no Rio de Janeiro, onde faz medicina na Universidade Federal Fluminense. Terminou o 3o ano da faculdade e conseguiu uma bolsa pelo “Ciências Sem Fronteiras” para vir estudar nos Estados Unidos. Pelo programa, não é possível escolher a universidade, apenas o país em que se vai estudar; Igor foi selecionado para passar um ano em Reno, na Universidade de Nevada.

Aqui, era aluno de undergrad, então não podia escolher matérias da medical school. Como sempre se interessou por saúde pública, mas nunca teve muito espaço para se dedicar a tal no Brasil, achou que aqui seria uma boa oportunidade. Escolheu, então, matérias como Introdução à saúde coletiva, epidemiologia e ‘American health system: management and admnistration’.

Aqui cabe, também, um parênteses para contar um pouco do que ele me contou sobre o undergrad. É bem diferente do sistema brasileiro; aqui a carga horária em sala de aula é menor e os professores pedem que os alunos já leiam o conteúdo do dia antes, para que cheguem preparados para discussões em sala de aula. O guideline diz que para cada hora de aula em sala de aula é exigido 2 horas de trabalho/estudos em casa.

Igor na Universidade de Nevada

Igor na Universidade de Nevada

Chegando em maio, quando acaba o ano letivo, o “Ciências Sem Fronteiras” tem como opção manter as bolsas para um estágio de verão. A questão é que o programa não ajuda os alunos a encontrar um estágio, apenas fornece as bolsas, cabendo ao aluno conseguir o estágio. Entrou em contato com professores, secretarias de saúde e pesquisadores e foi indicado pelo seu professor de epidemiologia, por ter se destacado no curso, para fazer um estágio de verão em pesquisa aqui em Harvard (uma revisão sistemática sobre aids nos adolescentes no Brasil).

No final da entrevista, contando um pouco sobre suas impressões e sentimentos, Igor relata que nunca se imaginou chegando onde chegou e que, talvez a sua maior lição seja que “tendo iniciativa dá para conseguir muita coisa”. Disse que aprendeu a acreditar, a ser proativo, a “dar a cara a tapa”. “E dai que nenhum amigo seu tá fazendo isso?” disse ele sobre a coragem de se arriscar, ao que completou com “se você quer chegar longe, tem que pensar antes da massa, ter atitude e não ter medo de quebrar a cara”. No fim, completou a entrevista com uma frase que eu sempre uso “você cria suas oportunidades”.

e, depois, em Harvard

e, depois, em Harvard

São duas histórias bem diferentes mas com uma mensagem parecida: é preciso acreditar, se arriscar, ter iniciativa, sonhar grande. Nunca deixem que te digam que é difícil demais. A gente precisa desistir do medo; até para errar é preciso coragem. Ou como disse Mia Couto: “Uma coisa eu aprendi na vida, quem tem medo da infelicidade nunca chega a ser feliz”.

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