Eu são
todos aqueles que
eu somos.
Eu sou isso mesmo. Sou fragmentos de pessoas, sou um aglomerado de muitas pessoas… que me são. E não poderia ser diferente! Todos somos lembranças. Sozinho ninguém é, sozinho ninguém pode ser. Eu lembro tudo aquilo que foi, tudo aquilo que não pôde ser, tudo aquilo que deixou de ser, tudo aquilo que nem chegou a ser, tudo aquilo que nem mesmo será. O futuro, o passado, eu sou o tempo. Eu passo. E carrego em mim as pessoas que comigo passam. Eu sou as pessoas que me passam. Eu sou o que em absoluto foi-me impresso na alma. Todos. Passam os anos. Passamos, pesamos, penamos, pensamos. Respirar é exalar lembranças: pessoas! E pessoas não há, não por si sós. Por si só, ninguém existe.
Pessoas são ocos de pessoas
que são ecos de pessoas
que são rotos de pessoas
que são cegos de pessoas
que são gostos de pessoas
que são restos de pessoas
que são rostos de pessoas
que são gestos de pessoas
que são mágoas de pessoas
que são pregos de pessoas
que são réguas de pessoas
que são egos de pessoas
que são reflexos de pessoas
que são refluxos de pessoas
que são refúgios de pessoas
que são repúdios de pessoas.
Que são e que são e que sendo
somos
organicamente
apenas
nós
a penas,
nós
sem pontas,
nós
atados,
em tudo,
o plural singular,
um
só
nó.
Um nó só,
um nó cego.
Eu sou o vento; as folhas que carrego comigo são-me mais do que eu, qualquer outra coisa.
Vinícius André, estagiário de Língua Portuguesa.