Já é tradição no Band o esforço para integrar disciplinas e superar o conhecimento compartimentado. São muitas as frentes que desenvolvem atividades que têm como objetivo apresentar o saber de forma holística, unindo conteúdos de diferentes áreas acadêmicas. Mais uma contribuição nesse sentido foi realizada em setembro de 2022, quando um exercício interdisciplinar elaborado pelas professoras Vanderiza Rodrigues, de Química, e Marina Consolmagno, de História, foi aplicada no self-study da 1.a série do Ensino Médio.
A inspiração para essa atividade surgiu a partir de uma viagem realizada pela coordenadora de História, Ana Cíntia de Amorim, a Dubai, além de sua visita ao Museu da Civilização Islâmica de Sharjab, nos Emirados Árabes Unidos. As conversas e o compartilhamento de fotos e de livros com as professoras, além do entusiasmo do coordenador de Química, Ricardo Almeida, acabaram resultando na dinâmica de Codocência que integrou os estudos realizados sobre Idade Média e Formação do Império Islâmico com o desenvolvimento de procedimentos importantes da Química como a destilação por arraste para a extração de óleos essenciais.
Vanda ressalta a importância de o aluno perceber as ligações entre os conteúdos, o que permitirá que estabeleçam relações mesmo com outras disciplinas. “Geralmente, relacionam Ciências da Natureza a Química, Física e Biologia e não a História, Geografia, Sociologia e outras. Cada vez mais os vestibulares sinalizam essa interdisciplinaridade, por isso os estudantes precisam observar relações entre conteúdos de diversas áreas do conhecimento.”. Já Marina explica que os fenômenos das duas matérias ocorrem simultaneamente. “Química acontece na História. Ela se dá no tempo e na sociedade, que são as matérias-primas da História, então, na verdade, existe a História das Ciências, que é uma coisa muito legal de estudar.”.
No âmbito da História, buscou-se combater preconceitos em relação à cultura islâmica. Os alunos puderam compreender que, enquanto as condições de vida declinavam para a maior parte da população da Europa Feudal, na Alta Idade Média, o Mundo Islâmico viveu uma “Idade de Ouro” a partir do século VIII. A cidade de Bagdá era um centro irradiador de estudos de filosofia, literatura, artes, arquitetura e ciências. Um florescente progresso intelectual ocorria graças à preservação da cultura grega antiga e do contato com sábios do Oriente, especialmente indianos. A fé islâmica não impedia a busca do saber, ao contrário, defendia o uso da razão para conhecer a obra de Alá.
Sob o ponto de vista da Química, a atividade ressaltou a importância dos alquimistas que, na época, já realizavam práticas laboratoriais envolvendo elementos minerais e outras substâncias que hoje estão no campo de estudo da Química moderna e deram fundamental contribuição para o desenvolvimento de processos usados até hoje. A professora de Química realizou na aula um experimento para demonstrar as técnicas e aparatos de destilação desenvolvidos por Avicena, que, pela primeira vez, conseguiu extrair o óleo de rosas. Nessa aula, os alunos entenderam como o óleo essencial é liberado das plantas, a partir da extração do óleo de eucalipto por meio da destilação por arraste. As técnicas apresentadas ainda são utilizadas em nossos dias em vários campos da indústria e na produção de combustíveis.
Os conhecimentos desenvolvidos pelos muçulmanos chegaram ao Ocidente a partir das Cruzadas, na Baixa Idade Média. Ajudaram os europeus a criarem sua primeira escola de Medicina, em Salerno, no século XI, e, graças aos textos traduzidos do árabe para o latim, os europeus puderam melhorar o tratamento das doenças e formaram os seus primeiros hospitais.
A atividade foi apresentada no II Encontro do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências e Complexidade do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Os professores presentes no Encontro receberam a atividade com simpatia e entusiasmo. Apresentaram diversas sugestões e novas ideias para ampliá-la nos próximos anos.