Olá querido leitor,
Espero que você esteja bem! Hoje vou contar um pouco mais sobre a minha experiência com pesquisa no laboratório. Eu acabo não compartilhando tanto a minha rotina de pesquisa porque ela é, de certa forma, bem repetitiva. Apesar disso, eu aprendo coisas novas praticamente todos os dias e, aos poucos, tenho acumulado uma pequena bagagem. É muito legal olhar para trás e ver como tenho melhorado tanto em habilidades manuais, quanto na parte de planejamento e compreensão dos experimentos que estou fazendo.
Quando cheguei, eu estava bastante ansioso para pôr a mão na massa, e ficava um pouco frustrado por não fazer muitos experimentos. Por conta da minha falta de experiência de bancada, tive que passar algum tempo treinando e aperfeiçoando as técnicas básicas para conseguir produzir bons resultados. Para que os resultados sejam confiáveis, eles devem ser consistentes. Vou explicar melhor: em vários experimentos nós fazemos duplicatas, que podem ser ou técnicas ou biológicas, e a variação entre elas deve ser mínima. Se há uma grande variação nas leituras, não há como saber qual valor é o real, ou seja, não há consistência.
A diferença entre replicatas técnicas e biológicas é que replicatas técnicas são feitas a partir de um mesmo ser vivo. Ou seja, se eu comparar células ou sangue do mesmo indivíduo, elas são replicatas técnicas. Se as amostras vierem de indivíduos diferentes, eu terei replicatas biológicas. As replicatas técnicas são usadas para tentar eliminar a variabilidade vinda do experimentador – ou seja, manter os resultados consistentes. Já as replicatas biológicas são utilizadas para tentar diminuir a variabilidade entre indivíduos. Cada organismo se comporta de uma forma diferente, mas há padrões de características e respostas a estímulos que são mais frequentes na população. Podemos pegar como exemplo a COVID-19. Se um pesquisador escolhesse apenas um indivíduo, talvez ele aleatoriamente escolhesse uma pessoa que tem carga viral detectável (PCR positivo), mas que não apresenta nenhum sintoma. Logo, ele concluiria que a COVID-19 não causa nenhum sintoma – uma conclusão completamente equivocada. É preciso que haja um número estatisticamente relevante para que a amostragem seja um reflexo mais fiel da realidade. Hoje, ao observar a população, sabemos que há diferentes respostas imunológicas ao vírus, e estamos tentando estimar que porcentagem dos indivíduos responde de forma assintomática ou sintomática, de forma leve ou grave, etc. Isso só é possível ao analisar um número significativo de indivíduos. Seguindo essa linha de pensamento, é por isso que novos tratamentos e vacinas para o coronavírus (e para qualquer outra doença ou condição clínica) precisam ser testados de forma ampla e seguindo uma metodologia científica. Caso não haja essa abordagem, os achados e as conclusões podem não passar de meras coincidências e levar a más condutas clínicas.
Os resultados de pesquisas devem mostrar uma interpretação válida da realidade e, para isso, ter uma boa técnica de laboratório é essencial. Caso contrário, não seria possível produzir ciência de qualidade. Está sendo muito gratificante sentir que estou aprendendo a ser um bom cientista e que tenho recebido um voto de confiança dos meus supervisores. Tento sempre dar meu melhor, e perceber que estou me aprimorando e contribuindo para a pesquisa do meu grupo é muito gratificante. Gosto muito de aprender coisas novas, mas tenho cada vez mais gostado de acompanhar o meu progresso em coisas “não novas”!
Produzir ciência de qualidade é um processo longo e repetitivo, e que na maioria das vezes não traz benefícios imediatos para a sociedade. No entanto, é impossível imaginar o mundo hoje sem as grandes inovações científicas. Espero que ao longo da minha carreira eu possa deixar meu tijolinho como contribuição à medicina, e que ao longo desse ano eu deixe pelo menos alguns grãozinhos! Até a próxima!
Lucas Umesaki se formou no Colégio Bandeirantes em 2015 e desde 2017 é aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Neste ano, terá o privilégio de vivenciar um dos principais centros de pesquisa do mundo em um programa de intercâmbio. Atualmente é Research Trainee no Brigham and Women’s Hospital, um dos hospitais filiados a Harvard Medical School.