Já tendo contado um pouco da rotina do lab e dos projetos, hoje vou falar da menina dos olhos, da mão na massa, dos experimentos cirúrgicos!
Nos dias de cirurgia, temos que chegar no hospital Beth Israel Deaconess Medical Center (o “BI” – bi ai) às 7h. Nestas datas, entramos mais cedo porque precisamos organizar os equipamentos e todo o “making-off” do experimento. Preparamos o anestésico, arrumamos a mesa de instrumentos, colocamos etiqueta em todos os materiais que vamos usar, arrumamos os cabos, ligamos o computador etc. Como somos três, dividimos as funções. Geralmente, eu preparo o anestésico e as etiquetas, a Fernanda prepara os instrumentos e as drogas que vamos administrar e a Sofia arruma os cabos e configura o computador. Assim, quando o Dr. Verrier chegar, já podemos começar o experimento.
Além de nós quatro, também estão presentes na equipe a técnica de veterinária e, às vezes, um estagiário de técnica de veterinária. Eles são responsáveis pelo monitoramento do porco, anotam os sinais vitais em todos os momentos e manejam possíveis intercorrências. Realizamos o experimento juntos e, em média, ficamos até umas 14h-15h.
Os dias de experimento são bem diferentes dos dias de escritório (o “office”). Ficamos todo o tempo juntos focados e, nos intervalos das medidas, conversamos sobre os mais variados e divertidos assuntos.
O principal tema de estudo da parte experimental é fibrilação atrial (“AF”). Fibrilação atrial é uma das arritmias mais comuns do nosso meio. Analisamos as alterações que as drogas fazem no coração e o seu potencial em converter a arritmia para o ritmo sinusal, que é o ritmo normal do coração. Até o momento, existem dois projetos nessa área. Os dois são sobre conversão de fibrilação atrial. Enquanto um deles é sobre a eficácia de uma droga, o outro é uma comparação entre duas diferentes drogas.
O que fazemos no experimento?
Depois de tudo arrumado para o início da cirurgia, começamos com a colocação dos cateteres. Eles entram pelos vasos e ficam alojados dentro do coração. Através deles conseguimos captar as ondas do ECG e medir a pressão arterial. Depois da inserção dos cateteres, por meio do fluoroscópio, um tipo de raio x contínuo, conseguimos verificar o se estão corretamente alocados.
Os experimentos variam conforme o protocolo das pesquisas. Por enquanto, já realizamos aproximadamente catorze cirurgias e três protocolos diferentes. Em geral, eles têm por objetivo de avaliar o efeito de diferentes doses de uma mesma droga no organismo, a fim de saber a segurança e eficácia de cada uma delas. Durante os experimentos, coletamos amostra de sangue para medirmos a concentração de droga no organismo e medimos as ondas do ECG, a frequência cardíaca, a pressão arterial e a contratilidade do coração. Ao final do experimento, sacrificamos o animal…confesso que essa parte foi um obstáculo para mim.
Antes de vir para cá, eu nunca tinha entrado em contato com pesquisa em modelos animais, então não saberia como me sentiria diante disso. Quando cheguei, antes de trabalhar diretamente com os porcos, precisei participar de diversos treinamentos sobre conscientização e responsabilidade da pesquisa em modelos animais. Há uma grande regulamentação e fiscalização para que o experimento seja conduzido de forma a mitigar o sofrimento animal e garantir que não haja maus tratos nos experimentos. Com certeza, isso me mostrou caminhos mais humanos de usar animais em pesquisa, mas devo dizer que ainda não deixo de sentir algum estranhamento.
Terminados os experimentos, temos uma montaaaanha de dados para analisar e é aííí que entra a bendita estatística, sobre a qual eu escrevi outro dia – e com quem ainda não consegui fazer as pazes!
Giovanna Pedreira
Os alunos formados no Band em 2014, Giovanna Pedreira e Leonardo Pipek, estão tendo uma oportunidade única! Em um programa de intercâmbio da Faculdade de Medicina da USP e da Harvard University, os dois passarão um ano estudando em Boston. Confira o Blog dos estudantes que será atualizado toda semana.