15 bebês nus sobre a terra. 8 fêmeas. 7 machos. Os primeiros a chorar acordam os restantes. Seus membros rechonchudos se movem desorientados, balançando levemente o capim baixo no solo. Seus olhos veem apenas o clarão da luz solar, difundida por um espesso tapete de nuvens.
2.
Duas meninas separam as folhas rasteiras de suas raízes e as levam a boca. À sua frente é possível ver uma bela vista: um vasto horizonte de morros, cobertos de terra preta e poucos arbustos, dividindo o extenso campo de visão com o céu nublado. A paisagem é separada por um penhasco reto e tão profundo, que não é possível ter uma exata noção de onde acaba. Atrás das meninas se encontra uma alta parede de pedra perpendicular ao chão. A rocha é lisa e é possível reconhecer camadas de diferentes sedimentos a partir da mudança de cor. Devido a sua localização, os únicos elementos que os membros do grupo conseguem ver de perto, são a parede, a grama sob seus pés e uns aos outros. A brisa constante carrega os dias e assopra homogeneamente a simples e pálida vegetação.
As crianças se distraem despreocupadas em seu pequeno terreno verde. Algumas se alimentam, outras estão deitadas. Seus corpos de pequeno porte são moles e com poucos pelos. Nem em suas cabeças os cabelos predominam sobre o couro. A menina mais alta e um menino correm pelo campo, pulam um em cima do outro, se trombam, raspam suas peles no chão em meio a risadas e onomatopeias. Em um movimento de esquiva, o menino salta para trás, suas costas batem no chão e a inércia rola o garoto para fora do capim. A menina mais alta corre para a beira do abismo e vê a forma do menino se misturar com as cores da terra lá embaixo. Ao perdê-lo de vista, ela franze as ralas sobrancelhas. Levanta delicadamente sua cabeça e olha para o horizonte distante a sua frente. Os morros. As nuvens. Lentamente vira e olha para as outras crianças sobre as folhas. Uma dúvida escapa seus olhos.
3.
Estão todos deitados e agrupados. O ar que a noite trás é mais fresco, porém não incomoda. 14 nus dormem sobre a terra. Seus corpos, agora, são bem maiores, porém continuam macios e flácidos. Suas mãos e pés são curtos e pouco desenvolvidos. Os suspiros do sono fazem roçar as peles virgens umas nas outras. Seus pelos continuam raros e finos. Na alvorada, eles acordam um por um. A luz difusa da aurora reflete na sua carne rosada. Aos poucos, como um rebanho de dóceis bestas, levantam da grama e encaram a sua familiar paisagem. O céu pros lados de lá está mais escuro. Ele vem devagar na sua direção, em um prenúncio. O vento apressa-se. É a primeira vez que sentem chuva. A menina mais alta esfrega excitada a mão em sua cabeça quase pelada. Juntos, deitam de bruços, de volta a grama, com os pingos atingindo suas costas.
4.
A menina mais alta está sentada na borda do terreno com os olhos cerrados ao entardecer. O cinza das nuvens preenche os semelhantes tons de verde do capim. A brisa empurra os finos fios de cabelo da menina, agora, maiores. Ela abre os olhos e, devagar, levanta com dificuldade. Sua pele murcha e enrugada raspa nas folhas. A menina mais alta senta com cuidado mais próxima ao grupo, em silêncio. Deita-se e fecha novamente os olhos. Morre a menina mais alta. Morre o último macho. Morre a última fêmea.