Meu reflexo acordou diferente esta manhã.
Quando o encarei de volta, os olhos no espelho não estavam mais nublados, distantes. Estavam azuis, o meu azul. A mesma cor que tinham quando me conheceu, quando me amou pela primeira vez. Quando te amei pelas várias mais. As olheiras não mostravam mais a imagem da insônia e desordem dos últimos dias, apenas indicavam que eu havia acabado de levantar com meu alarme aos gritos. Meu cabelo continuava violeta, reluzente e embaraçado de travesseiro. Mas minha boca era outra, meus lábios eram meus e só meus de novo, e a certeza disso doía. Mas não machucava do mesmo jeito. E podia jurar que um sorriso correu pelos meus olhos quando me dei conta disso.
Nós tínhamos escolhido isso, tínhamos decidido juntos. Me lembro como se fosse ontem: Suas mãos em meu rosto, nossas silhuetas enroscadas, seus olhos só refletiam os meus e vice-versa. Nossas palavras saíam tortas, agitadas, mas eram ditas em voz alta, concordando entre si. E isso era algo para se levar em consideração.
Eu não queria te soltar, não queria que fosse embora, mas não mudei meu discurso. Você não queria me deixar, e amaldiçoava suas próprias frases por falarem com a razão que discordava amargamente com o que sentíamos. E o pior? Eu entendia. Entendia o porquê de estar me dissolvendo por dentro enquanto você caminhava dolorosamente para o outro lado do mundo, e mesmo assim deixa-lo ir. Meu Deus, como desejei não entender! Como desejei te puxar de volta, dizer que não me importava com mais nada que não fosse nosso amor e meu egoísmo… Mas não era verdade. Eu me importo mais com você, que meu egoísmo. E nosso amor será sempre nosso. Vai sempre fazer casa nas entrelinhas das histórias que irei contar.
Decidimos isso juntos. E meu reflexo acordara diferente aquela manhã. A dor não era a mesma. Eu estava feliz pela mudança. Mas meu peito ainda afundou quando pensei na sua respiração na minha nuca e na sua voz rouca as 8:00 da manhã.
“Estou feliz. Estou agradecida. Estou orgulhosa”. Repetia, mesmo sabendo que não era verdade, mesmo tendo certeza de que eu preferia ser uma má pessoa a ser alguém sem você. Então por que o deixei ir? Eu não queria, mas te amo tanto… E você não seria a pessoa por quem me apaixonei se te impedisse de seguir seus sonhos. Seus olhos não seriam os mesmos, nenhum brilho moraria na sua íris cor de amêndoa. Eu não seria a mesma pessoa por quem você se apaixonou, se não acreditasse em você, se não te deixasse ir.
Ainda assim meu reflexo levantou da cama com um olhar diferente. Eu acho que consigo fazer isso. Acho que você também consegue.
E se nada der certo por aí, eu ainda te amarei.
Lara Cardoso – 2J