Tinta traiçoeira,
por que me esqueceste?
A ti contei os segredos mais secretos
que em meu âmago repousavam
Onde eles residem agora?
Tu eras meu lar
Meu aconchego
Minha ternura
Companheira da hora inexistente
Te procurei por todas as partes
desse volúvel mosaico
que sou.
Os sentimentos me trapaceiam
E se refugiam dentro de mim
Onde estás tu, guardiã do enigma,
Para arrancá-los de mim
E derramar minhas entranhas sobre
o papel?
Teu corpo esguio encaixava-se
Perfeitamente no meu
E não há quem preencha
o buraco que deixaste
Deitei-me com outros
Toquei outras carnes
Revelei-me a outros olhos
Embrenhei-me em outros braços
Porém, és minha irrevogável sina:
Penso que me moldei antes de nascer
sem saber que era
para ti.
13/04/2018