A mulher brasileira duplipensada da mídia
Gabrieli Fonseca de Oliveira
A indústria midiática da atual sociedade brasileira tem um importante papel na formação cultural da população. No que se refere à imagem disseminada da mulher por esta indústria, observa-se uma lastimável contradição sobre como a mulher é referida. Se por um lado, a publicidade propaga ideias de respeito e valorização da figura feminina na atualidade, por outro, este mesmo veículo difunde um retrato da mulher associado ao erotismo e ao universo doméstico, que reflete a sua inestimável subjugação na contemporaneidade brasileira.
Uma analogia eficiente para descrever a representação da mulher no país pode ser feita com o conceito criado por George Orwell em 1984 sobre o duplipensamento, no sentido de que a mentalidade brasileira enxerga simultaneamente dois papéis distintos e opostos para a mulher. No núcleo familiar, por exemplo, um casal comumente afirma ser a favor do movimento feminista e da equiparação de direitos entre homens e mulheres ao mesmo tempo que pressiona sua filha a saber cozinhar e limpar a casa “porque este é um conhecimento importante para o casamento”. Como no mundo utópico criado por Orwell, o caráter paradoxal do pensamento é tido de forma inconsciente. Esta antítese de consciência deriva de uma raiz cultural e histórica dos antepassados na nação brasileira sobre a imagem da mulher, que é perpetuada pelos meios de comunicação e entretenimento.
Ademais, um outro abominável retrato feminino característico da sociedade brasileira é a associação da mulher a uma inferioridade intelectual. Por conta desta imagem deturpada presente em todo o território nacional, moças desde pequenas não são estimuladas a se inserir em posições sociais de destaque. Como resultado deste quadro ideológico equivocado, a mulher é condicionada a ocupar cargos de baixa exigência mental, como trabalho doméstico e telemarketing, ao passo que os homens são o gênero predominante na política, pesquisa científica e outras profissões valorizadas, como engenharia e advocacia.
Sendo assim, é imprescindível que a associação da figura feminina a posições de submissão matrimonial, intelectual e profissional seja mitigada no que concerne à divulgação midiática da imagem da mulher, a fim de que esta seja “desduplipensada” no âmbito sociocultural.