Eu não sei se você sabe, mas, quando dormimos, os espíritos saem de seus corpos e vão fazer… o que tem de fazer.
Porém, nem tudo é trabalho no “outro lado”, pois precisamos nos doar para algo que nos chama de tempo em tempo. Deus percebeu isso em mim e me convidou para tomar uma xícara de bebida quente. Ao chegar no local programado, lá estava uma de suas belíssimas manifestações, com seus traços finos e olhar de compreensão e felicidade:
– Chamou, Mãe?
– Sim, pequenino, venha! Ajuda-me em erguer uma parede nesta nuvem. Disse Já “agachad@”, jutando aquela espuma macia e confortavelmente morna.
Me ajoelho ao seu lado, enfiando minhas mãos na matéria prima. “Elx” cantarolava canções fabulosas e que eram de minha preferência – era criação “delx”, descoberta nossa.
Depois de algum tempo, que não consigo mensurar – mas, também, não foi tempo demais -, “Elx” me chama: “Tu achas que este comprimento está bom, meu filho?”. Observo a parede de quatro metros de comprimento, cinco de altura, se unindo ao meu trabalho não muito diferente. Talvez meus olhos vejam a minha parte como inferior devido ao Ser que me acompanha:
– Seja sincero, meu filho.
– Está ótimo! De verdade.
De nossas mãos, as duas paredes se tornam quatro, com uma porta e algumas janelas altas. Era gratificante o trabalho artesanal – principalmente com o reflexo do por d sol e seus tons de laranja, vermelho e roxo – mas não estava me satisfazendo como deveria. Era como…:
– O que te preocupas, pequenino? Ecoou a voz que, com sucesso, procurou meu conflito.
– Era como se esta criação não fosse obra minha. Isso Faz perder a graça da criação, sabe?
– Bem, Vamos resolver isso? O que falta?
Entrando na sala, fitando o que eu entendia como ideal, formava-se algumas prateleiras, um banco de três pés, vasos com as mais diversas flores e um tripé com uma tela; mas ainda era apenas nuvem.
Fechou a porta. Ando até a beira da nuvem. Me sento.
“Elx” abre um sorriso tímido. Senta ao meu lado e começa a moldar um pedaço da nuvem. Sua voz ecoa com onipresença:
– Depois de tanto, percebe-se que nem tudo é trabalho, pois precisamos nos doar para algo que nos chama de tempo em tempo; do que sua essência faz necessidade, filho?
– Um plano de bolso, Deus, para eu me permitir me manifestar com sinceridade.
“Elx” me entrega uma chave -modelada da nuvem – que era sólida, fria ao toque e ligeiramente pesada.
Levanto, me dirijo até a porta e a destranco.
Entro.
Fitando o que eu entendia como ideal, observo um banco alto, de madeira de um escuro marrom polido e envernizado. As prateleiras, do mesmo material e cuidado do banco, suportavam as mais diversas flores, que pareciam me receber com carinho de um velho amigo. Também havia um tripé metálico, preto, e uma tela branca, com todo material que precisava. As taboas do chão pareciam ser um marrom alaranjado, devido ao belo por do sol que foi petrificado nesta sala.
“Elx” já não estava mais lá. O trabalho desta manifestação foi concluido. Mas não o meu…
“Já venho!” eu disse enquanto trancava a porta por dentro.
Arthur Degering. Sobrevivente, ex-aluno 2014