Olá!
Essa semana, conforme o prometido, vamos continuar a conversar sobre os motivos que fazem de Boston uma cidade apaixonante.
Contudo, antes disso, quero te contar mais uma curiosidade sobre a capital de Massachusetts. Se você procurar no dicionário pela palavra “wicked”, encontrará significados como “perverso”, “malvado”. Porém, na região dos Estados Unidos conhecida como Nova Inglaterra, da qual Boston faz parte, essa palavra é usada de modo completamente diferente, significando “muito”, “bastante”. “Wicked”, por aqui, não é um adjetivo com conotação negativa, e sim um advérbio, normalmente usado para reforçar coisas boas: “this place is wicked amazing!”.
Tudo bem, e como isso se relaciona a esse tema? O título original do post era “13 Reasons Why”, que é o nome de uma série famosa e sombria da Netflix cujo tema é suicídio. Minha intenção foi, do mesmo modo que os moradores da Nova Inglaterra deram à palavra “wicked” um ar positivo, ressignificar o nome da série, transformando-o em algo leve e feliz. Te agradeço se você apreciou a referência, e te peço profundas desculpas se te incomodei. Com certeza, não era a intenção. Agora, vamos aos motivos, e para excluir qualquer relação com um tema potencialmente desagradável, serão 14 e não 13!
#8 – Meca dos frutos do mar
Se você tem gota (doença causada pelo acúmulo de ácido úrico e que piora com o consumo de frutos do mar), Boston não é um bom destino de férias para você. Por aqui, esqueça o fast food normalmente associado à cultura americana: a cidade é conhecida pela enorme disponibilidade de lagostas, ostras, camarões, mexilhões. Tanto que, para reforçar o meu ponto, o símbolo da cidade é uma lagosta. Mesmo.
O prato mais clássico de Boston é a clam chowder: uma sopa de mexilhões que normalmente vem dentro de um pão, tudo quentinho e delicioso, fazendo jus à palavra imperdível. E quem não é fã de frutos do mar? Naturalmente, sendo uma cidade culturalmente rica e diversificada, há opções para todos os gostos, com culinárias de todos os tipos, de vietnamita a irlandesa, de japonesa a indiana. E brasileira…
#9 – Sentiu saudades de casa?
Isso não é um problema, visto que há muitos brasileiros na região. O exemplo mais emblemático é a vila de Framingham que, localizada há poucos quilômetros do centro de Boston, possui uma das maiores comunidades brasileiras dos Estados Unidos.
Quando se trata de culinária, além do exorbitante e inacessível Fogo de Chão localizado na região mais nobre da cidade, há diversos restaurantes brasileiros que realmente têm a cara e a energia do país. Tento ao máximo evitar esses locais (se fosse para comer churrasco, feijoada e moqueca, eu teria ficado no Brasil, não é mesmo?), mas é sempre bom ter a opção.
No Carnaval, época em que eu mais senti falta do astral brasileiro, a associação de alunos brasileiros do MIT organizou uma festa com samba, brigadeiro, guaraná, e até passistas. Obviamente não chegou aos pés do nosso Carnaval, mas ter um gostinho de casa de vez em quando é delicioso.
#10 – Turistando
Moro em Boston durante a semana, mas aos sábados e domingos eu tenho orgulho de viver como turista diante das inúmeras opções de lazer: museus, igrejas, shows, exposições, lojas, festivais, parques, aquários, restaurantes. Tem Chinatown, tem Little Italy, tem Broadway. Por ser um tema muito extenso e aprazível, farei um post inteiro sobre o assunto em breve, mas deixo aqui um gostinho de um dos museus mais estonteantes da cidade.
#11 – Luta constante
Boston é uma cidade muito ativa politicamente. Além dos ininterruptos protestos contra a gestão do atual presidente Donald Trump (dos quais eu tratei no post A Era Trump), os bostonianos lutam constantemente pela inclusão das minorias, pela preservação do meio ambiente, pela aceitação de refugiados, pelos direitos das mulheres. Me agrada muito morar em uma cidade onde as pessoas transformam insatisfação em ação, ao invés de ficarem paradas esperando algo mudar magicamente.
#12 – Oásis urbano
Em Boston, foi construído um sistema de parques unificados, o Emerald Necklace, que permite que você atravesse a cidade inteira só por meio de áreas verdes. Na verdade, esse sistema é tão grande que até extrapola os limites da capital, chegando a cidades vizinhas. Do Boston Common ao Franklin Park, há rios, trilhas, campos abertos e jardins ininterruptos. Não sei se isso existe em alguma outra cidade do mundo, mas para mim essa é a definição de qualidade de vida.
#13 – Fanáticos por esportes
Os bostonianos revolucionam o conceito de paixão por esportes, sendo verdadeiramente impossível morar na capital de Massachusetts sem conhecer os quatro times que aceleram o coração da cidade: Boston Bruins (time de hockey), Boston Celtics (basquete), New England Patriots (futebol americano) e Boston Red Sox (beisebol).
As temporadas de cada um desses esportes intercalam-se ao longo do ano, de modo que, de janeiro a janeiro, a demanda por fortes emoções nos canais esportivos é atendida. Por exemplo, agora estamos no meio de maio, então a temporada de basquete já está perto do fim, e a de beisebol acabou de começar. Esse último fato impacta enormemente a minha vida, uma vez que eu moro muito perto do Fenway Park, o lendário campo de beisebol dos Red Sox. E, como tem jogo quase todos os dias, acho que você pode imaginar como o bairro fica: é difícil ver na rua uma única pessoa sem as roupas do time de 116 anos de história. Eu acho isso o máximo!
Contudo, para mim, o dia mais emocionante na vida esportiva de Boston até agora foi logo no começo de fevereiro: os New England Patriots, time de futebol americano de Tom Brady (mais conhecido por nós brasileiros como marido da Gisele Bündchen), estavam na final do Super Bowl. Imagine a cidade deserta, e os bares lotados! O time de Boston começou perdendo de 28 a 3 dos Atlanta Falcons, o que me fez sair do bar onde eu estava e ir jantar em uma das poucas hamburguerias abertas naquele dia. Afinal, o jogo estava para lá de deprimente e as chances de virada eram praticamente inexistentes. Qual não foi a minha surpresa ao ligar a televisão algum tempo depois e me deparar com os últimos minutos de uma partida inacreditável: os Patriots haviam empatado e levado o jogo para a prorrogação, na qual venceram por 34 a 28, o que se configurou como a maior virada de uma final de Super Bowl da história. Ademais, Tom Brady, ídolo absoluto de Boston, foi eleito o melhor jogador da partida. Como você pode imaginar, a cidade estava em êxtase absoluto nos dias seguintes.
Curiosamente, no ano passado, eu também estava em Cleveland coordenando um programa de pesquisa quando os Cleveland Cavaliers, time de basquete do incomparável LeBron James, foram campeões da NBA. Acho que eu dou sorte!!!
#14 – O que os olhos não veem…
O coração sente, sim, senhor! Enumerei diversos motivos objetivos e pontuais, mas, sinceramente, não é possível explicar racionalmente porque Boston é uma cidade encantada. O ar, a água, o céu… a energia daqui faz bem! Não é o que a cidade oferece em termos de infraestrutura, mas o que ela faz sentir: liberdade, plenitude e uma apreciação constante da vida.
Queria salientar que isso é uma questão de ponto de vista. Há vários alunos do programa USP-Harvard que concordam comigo ipsis litteris e acham Boston “wicked awesome”, mas há outros que não veem a hora de voltar para o Brasil. Quanto a mim, sim, sou uma romântica incurável, e pretendo continuar nesse caso de amor por Boston por muito tempo!
Semana que vem, vamos conversar sobre medicina. Espero você!
Carol Martines
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Carolina Martines estudou no Colégio Bandeirantes de 2006 até 2012. Em 2013, foi aprovada em primeiro lugar na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), mas optou por cursar medicina na Universidade de São Paulo (USP). Depois de concluir os quatro primeiros anos da faculdade no Brasil, foi aprovada em um programa que a Faculdade de Medicina da USP tem com a Harvard University. Este programa seleciona estudantes que terão o privilégio de ser alunos de Harvard por um ano, trabalhando com pesquisa científica.
“A alegria é a pedra filosofal que tudo converte em ouro.” (Benjamin Franklin)