Olá, como estão as coisas?
Se você me fizer essa mesma pergunta, normalmente eu vou responder com um sorriso largo que está tudo maravilhoso. Contudo, se a pergunta fosse feita na semana passada, a resposta seria bem diferente: eu simplesmente não estava aguentando mais essa desgraça de frio. Nos primeiros meses, eu me encantei com o inverno, me emocionei com a neve… mas chegou o equinócio de primeira, depois veio abril, e continuou nevando. Mesmo quando não nevava, chovia ininterruptamente, o que é ainda pior que neve, porque te deixa com frio E molhado. Comecei a andar na rua diariamente rezando para que o frio se abrandasse. Veja bem, não era como se eu estivesse pedindo o verão do Brasil. Eu só queria poder sair de casa usando apenas UMA calça. É pedir muito? Uma temperatura de 10 graus Celsius me faria a pessoa mais feliz do mundo. Mas o clima não melhorava, e meu humor parecia acompanhar os termômetros.
Até que, de súbito, tudo mudou. Acordei em uma manhã de abril e fui verificar a previsão do tempo para aquele dia. As botas impermeáveis aguardavam no chão, o casaco de neve repousava na mesa. “Máxima de 28 graus.” Não era possível. Esfreguei os olhos, achei que ainda estivesse dormindo, verifiquei se a temperatura não estava em Fahrenheit. “Máxima de 28 graus Celsius.” Estava correto. Meu Deus, que alegria inexplicável!
Saí para a faculdade de casaco, obedecendo à parte de mim que se recusava a acreditar naquele milagre, mas no final da tarde coloquei shorts e regata pela primeira vez em 3 meses, e fui correr por Boston ao som de Feeling Good para sentir a primavera na pele – literalmente.
Como em um passe de mágica, sem dar nenhum aviso, a cidade floresceu, a vida floresceu. O verde tomou conta dos parques antes desprovidos de cor. Flores se multiplicaram por toda parte. E mais importante do que a vegetação, as pessoas floresceram. Eu nunca vira tantas pessoas andando pelas ruas de Boston. Praticando esportes, passeando com seus cachorros, ou simplesmente saboreando aquele novo estado de espírito deitadas na grama. Nessas condições, o simples fato de existir é prazeroso.
Difícil traduzir em palavras essa sensação única de renascimento que nós brasileiros nunca experimentamos até nos aventurarmos em outros países. Aprendemos que as quatro estações existem na escola, mas o real impacto disso em nossas vidas ensolaradas é mínimo. Não tenho dúvidas que o clima do nosso Brasil é infinitamente melhor, com verão o ano todo, porém tenho que admitir que essas estações tão bem definidas têm o seu charme. É aquele velho clichê: só aprendemos a valorizar o calor quando conhecemos o frio de verdade. Uma moça que trabalha em um laboratório associado ao meu definiu sutil e precisamente isso tudo: “Gosto das mudanças das estações. Faz com que você sempre tenha esperança de algo novo.” Esperança, essa é a palavra.
Como se não fossem suficientes a primavera e essa temperatura deliciosa enchendo meu coração de alegria, ainda foi Páscoa no domingo e é meu aniversário na sexta, duas datas que também são sinônimo de renovação para mim. Pois é… os dias têm sido muito felizes por aqui!
Até semana que vem, quando vamos conversar sobre a maratona de Boston, terrorismo e ainda mais sobre esperança.
Carol Martines
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Carolina Martines estudou no Colégio Bandeirantes de 2006 até 2012. Em 2013, foi aprovada em primeiro lugar na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), mas optou por cursar medicina na Universidade de São Paulo (USP). Depois de concluir os quatro primeiros anos da faculdade no Brasil, foi aprovada em um programa que a Faculdade de Medicina da USP tem com a Harvard University. Este programa seleciona estudantes que terão o privilégio de ser alunos de Harvard por um ano, trabalhando com pesquisa científica.
“Não se pode dizer para a primavera ‘tomara que chegue logo e dure bastante’. Pode-se apenas dizer: ‘venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder’.” (Paulo Coelho)