Oi, pessoal!
No post de hoje, eu vou finalmente parar de divagar sobre clima e política, e responder ao que provavelmente foi a sua primeira pergunta ao começar a acompanhar o blog: afinal, o que eu estou fazendo aqui?
Como você já sabe, fui selecionada para atuar como pesquisadora e aluna por um ano no laboratório Brain, na Universidade de Harvard. Ao contrário do que possa aparentar à primeira vista, uma vez que “brain” significa cérebro em inglês, meu laboratório não tem nenhuma relação com o sistema nervoso: o estudo realizado por aqui é focado nos pulmões. De onde veio esse nome, então? Na Universidade, os laboratórios são nomeados de acordo com os seus P.I.s (sigla para “principal investigator”, o que em um português bem claro seria traduzido como “o chefão”.). Pois bem, o meu P.I. chama-se Dr. Joseph Brain. Agora tudo fez sentido, não é mesmo?
Além do Dr. Brain, o nosso time é composto por mais 3 super pesquisadores: um filipino perfeccionista, Ramon, um indiano muito sério, Nagarjun, e um sueco sempre bem humorado, Tom. Por último, mas de modo algum menos importante, temos um futuro super pesquisador: Paulo, das longínquas terras de Minas Gerais, que é da minha turma na USP e também foi aprovado no mesmo programa. Há também outras pessoas provenientes de outros laboratórios que trabalham conosco como colaboradoras, mas a composição do time Brain é basicamente essa, e fiz questão de ressaltar um dos meus pontos favoritos sobre o meu ambiente de trabalho: a pluralidade cultural. Conviver com pessoas de origens, hábitos, religiões e histórias tão distintos gera um aprendizado constante de uma riqueza inenarrável.
O nosso laboratório – e tenho o maior orgulho em chamá-lo de nosso – tem como principal especialidade o estudo dos pulmões, mais especificamente dos efeitos que substâncias tóxicas a que estamos expostos diariamente provocam em nossas vias aéreas. Para isso, usamos um modelo animal: ratinhos. E sim, isso envolve o sacrifício deles, o que para mim é uma questão ética e religiosa muito extensa e complexa, da qual pretendo falar mais detalhadamente no futuro.
Os experimentos nessa área de toxicologia e fisiologia pulmonar são realizados basicamente de dois modos, sendo o primeiro mais tradicional e o segundo maravilhosamente inovador. De cara, já ficou bem claro qual o meu preferido. O método tradicional envolve introduzir uma substância X pela traqueia do rato anestesiado. Depois de 24 horas, realizamos uma lavagem do pulmão do animal e analisamos diversos parâmetros a fim de avaliar a extensão e o tipo de dano causado. Já a segunda técnica foi desenvolvida e aprimorada nesse mesmo laboratório por alunos que participaram do meu programa em anos anteriores, e é chamada de PCLS (“Precision Cut Lung Slices”). De modo bem simplificado, fatiamos os pulmões do rato em centenas de pedacinhos, que são colocados em uma placa, onde a mesma substância X é aplicada e tem seus efeitos analisados. E por que eu sou tão mais fã do PCLS? É simples: se quisermos avaliar 15 substâncias diferentes usando a primeira técnica, precisamos sacrificar pelo menos 15 animais. Contudo, usando o segundo método, podemos utilizar 15 pedacinhos do pulmão de um único rato – e ainda congelar o que sobrou para experimentos futuros. Não é o máximo?
Nas primeiras semanas, eu e Paulo passamos por treinamentos nos quais aprendemos a realizar tais técnicas e análises, além de ajudarmos os outros pesquisadores no que podíamos. Também tivemos que ler e estudar muitos artigos científicos da área. Depois de muito preparo, fomos enfim designados aos nossos respectivos projetos, dos quais seremos os maiores responsáveis. E o meu, para minha imensa felicidade, terá o PCLS como carro-chefe.
Do que consiste esse projeto para o qual eu estou tão empolgada? O que eu faço na faculdade quando não estou no laboratório? E mais importante do que qualquer outra coisa… já parou de nevar em Boston? Essas e outras perguntas terão que esperar até as próximas semanas… mas já adianto que a resposta da última é NÃO, ainda não parou de nevar em Boston!
Até breve!
Carol Martines
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Carolina Martines estudou no Colégio Bandeirantes de 2006 até 2012. Em 2013, foi aprovada em primeiro lugar na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), mas optou por cursar medicina na Universidade de São Paulo (USP). Depois de concluir os quatro primeiros anos da faculdade no Brasil, foi aprovada em um programa que a Faculdade de Medicina da USP tem com a Harvard University. Este programa seleciona estudantes que terão o privilégio de ser alunos de Harvard por um ano, trabalhando com pesquisa científica.
“Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos”. (Albert Einstein)
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