Tudo começou com coros, que percorriam as cidades para homenagear Dionísio, o deus do vinho. Até que um dos integrantes decidiu colocar uma máscara e encarar o próprio deus. Era o início da tragédia, da comédia e da figura do ator.
Havia mais de 80 festivais na Grécia do século 5 a.C. Um deles, o Dionísio Citadina, homenageava um dos personagens mais famosos da mitologia grega, Dionísio, o deus do vinho, com procissões animadas. Eram coros formados por 50 integrantes chamados à época de ditirambos (que significa “hino em uníssono”). Vestidos de sátiros (criaturas metade homem, metade bode), empunhando falos de madeira e bronze e tocando tambores e flautas, eles entoavam cantos ao deus fanfarrão.
Como não podia deixar de ser, as odes a Dionísio eram regadas a vinho, e a coisa ia ficando mais animada à medida que a embriaguez tomava conta do coro. O estímulo etílico à criatividade foi sofisticando as procissões, que passaram a incluir danças, cenas e declamação. Até que um dia, em meados do século 4 a.C., Tépsis de Icárion, que atuava como corifeu, responsável por dirigir o coro e dialogar com a plateia, encarnou Dionísio usando uma máscara. Nascia ali o primeiro ator de teatro de que se tem notícia, em grego, hypokrites, que significa “interprete” – a raiz da palavra hipocrisia em português. Surgia também a tragédia e a comédia, dependendo do tom assumido pela história.
Fonte: LISBOA, Sílvia; NEVES, Caco. A invenção do teatro. Dossiê Super Interessante, São Paulo, p. 58-59, mar. 2017