Oi! Bem-vindo de volta.
A primeira pergunta que 11 em cada 10 amigos me fazem sobre o intercâmbio é tá muito frio?. Logo, nada mais justo do que conversarmos sobre isso também. E a resposta é: MUITO frio.
Eu sempre amei o verão, o sol, o Brasil. Passei 21 anos da minha vida sem ver neve e, apesar de ter sim uma pequena vontade de passar as férias em um lugar com neve, quem em sã consciência trocaria uma praia, um biquíni e um coco gelado por uma montanha fria, 3 casacos e um chocolate quente? Talvez você discorde de mim, mas definitivamente eu não trocaria. Quando contei isso para um dos pesquisadores da faculdade, ele me olhou, sério por fora mas rindo por dentro, e disse: “o que você veio fazer em Boston então?”. Preferi não tentar responder.
Nos meus primeiros dias na cidade, o tempo estava o que os bostonianos chamam de “spring weather” (clima de primavera): temperaturas um pouco acima de zero mas jamais acima de 8 graus e nada de neve pelas ruas – alguém precisa urgentemente ensinar o conceito paulista de primavera para as pessoas de Boston. Todavia, a sensação térmica para o meu corpo acostumado com os nossos deliciosos 30 graus era de que eu estava vivendo dentro do congelador. E, para complicar, o aquecimento da minha casa não funcionava. Em suma, era muito frio, mas dava para sair na rua com um pouco de boa vontade e bom humor. Mal sabia eu que dava para piorar, e muito…
Não nego que a primeira vez que eu vi neve foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Foi logo no meu primeiro dia na faculdade. Eu estava em uma palestra de boas vindas aos novos alunos, e um dos responsáveis pelo programa estava discursando lindamente: “Tenho dois conselhos para vocês. O primeiro é: cometam um erro novo todos os dias, e descubram porque o fizeram. O segundo, façam o seu melhor sempre, mas especialmente quando ninguém estiver olhando.” Meus olhos já estavam marejados, já que esses discursos motivacionais mexem muito comigo. Eis que nesse momento o professor para de falar por um instante, olha pela janela, sorri, e continua: “Ah, olhem só. Está nevando. Agora sim, bem-vindos a Boston.” Acompanhei o olhar dele e vi, caindo pelo céu feito mágica, floquinhos de algodão embranquecendo a cidade inteira. Tentei segurar uma lágrima discreta em nome da postura profissional, mas quem disse que eu consegui? Alguns minutos depois da palestra, sai do prédio para sentir a neve, e se apossou de mim uma felicidade tão grande e tão genuína que juro para você que eu nem senti frio. A experiência foi muito marcante, mas em poucos minutos a neve deu lugar à chuva e os flocos presentes no chão derreteram.
E assim se passaram alguns dias: eu, ainda maravilhada com aquela visão da neve, sobrevivendo ao “spring weather”. Até que… chega um e-mail na minha caixa de entrada informando que a faculdade seria fechada no dia seguinte por conta de uma tempestade de neve. Alertas em todos os jornais: os meteorologistas previam uma tempestade que pararia boa parte da costa leste dos Estados Unidos. Uma tempestade tão forte que tinha até nome: Niko. (Lembra do furacão Katrina em 2005? Os americanos gostam de nomear eventos climáticos importantes, e Niko seria um deles.) E o mais assustador de tudo para mim: a sensação térmica chegaria a -21 graus Celsius.
Ao amanhecer do dia 9 de fevereiro, apreensiva, eu não sabia o que esperar. Mas o resto dessa história fica para o próximo post!
Até lá!
Carol Martines
“A primeira neve é como o primeiro amor. Você se lembra da sua primeira neve?” (Lara Biyuts)
“Still… in this world only winter is certain.” (George R.R. Martin, A Dance with Dragons)