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05/10/2015

O que você está fazendo aí?

O que você está fazendo aí?

Publicado em 05/10/2015 16:26

Já fizemos vários post sobre os mais diversos e curiosidades que se passam na vida de um intercambista…mas muitos ainda devem estar se perguntando: “mas, afinal, o que você faz aí em Harvard?”. Por isto, este post é para esclarecer aos curiosos que tipo de coisa fazemos por aqui.

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Trabalhando no laboratório

Como já dito antes, eu e a Carol estamos passando 1 ano como intercambistas-pesquisadoras no departamento de Environmental Health (Saúde Ambiental) da Harvard School of Public Health (Escola de Saúde Pública de Harvard). Cada uma de nós trabalha em um laboratório diferente, no qual há uma equipe composta por: um PI (Principal Investigator – vulgo “chefão”), PhDs (Pós Doutorandos), pesquisadores associados e nós (intercambistas). Nem todos os laboratórios aceitam intercambistas e, em geral, todos os labs têm mais de 1 PhD.

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Trabalhos “in vivo” com ratinhos

No início do ano, nós recebemos vários treinamentos com os PhDs e com os pesquisadores associados para aprendermos os procedimentos realizados no laboratório. Aprendemos desde como pipetar corretamente e protocolos de segurança para radiação e risco biológico até mesmo como executar experimentos envolvendo reações enzimáticas, contagem e diferenciação celular e cirurgias em ratinhos. Conforme o tempo vai passando, nós vamos aprendendo mais minuciosamente cada uma das etapas, adquirindo segurança e conquistando a confiança dos pesquisadores. Hoje nós já temos autonomia e experiência suficientes para realizarmos os experimentos sozinhas. Os projetos em si variam de laboratório para laboratório, mas estas são regras gerais para todos.

Particularmente no meu laboratório, os temas envolvem estudos com toxicidade, imunologia e pneumologia. Desde o início do ano eu tenho trabalhado em 2 projetos maiores: o primeiro envolvendo “toxicidade em PCLS” e o segundo envolvendo insulina inalável.

Deixe-me explicar melhor:

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Técnicas de análise de metabolismo celular “in vitro” e “ex vivo”

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Demonstração de um dos resultados de testes de metabolismo celular que fizemos. As unidades mais escuras continham células com menos Zinco – e, portanto, mais células vivas – e as unidades mais claras, células que sofreram mais pela toxicidade do Zinco.

O PCLS (Precision Cut Lung Slices) é uma técnica de estudo utilizada em toxicologia, na qual pulmões de ratinhos são cortados por uma máquina (chamada “vibrotome”) em fatias bem finas (250µm). Posteriormente, são feitos estudos com as fatias para avaliar como o tecido se comporta diante de diferentes concentrações de substâncias tóxicas. No caso do meu laboratório, o tóxico mais utilizado é o ZnCl2 (cloreto de zinco) e o laboratório tem um histórico de grande experiência com Zinco. O PCLS é extremamente vantajoso pois permite que apenas um pulmão forneça inúmeras fatias que podem ser utilizadas para diferentes concentrações tóxicas e vários testes. Este princípio de estudo é chamado “ex-vivo“: um meio termo entre estudos “in-vivo” (com animais vivos) e “in-vitro” (com cultura de células). Estudar o tecido inteiro é melhor do que estudar apenas um tipo de célula in vitro pois simula melhor as interações entre os diferentes tipos de células e considera também o meio em que as células estão inseridas. Este método ex vivo é melhor também que o in vivo no que se refere à quantidade de animais: enquanto no método ex vivo apenas um ratinho fornece material para incontáveis testes, se fôssemos fazer os mesmos testes in vivo considerando um teste para cada ratinho, teríamos que usar centenas deles.

Na prática do dia a dia, o meu trabalho vai desde sacrificar um ratinho (sim, tudo é feito eticamente conforme as leis de defesa dos animais), insuflar seu pulmão com agarose, até trabalhar com as fatias dos pulmões, incubando-as em placas de petri com ZnCl2 (cloreto de zinco) para avaliar o comportamento diante de diferentes concentrações. Isto exige muito tempo e paciência pois as análises têm de ser feitas calculando um tempo pré determinado (24h, 6h, 4h, 2h, 1h) e muito cuidado com as fatias, que são bem sensíveis e, se não tratadas com o devido cuidado, podem ser contaminadas com bactérias ou simplesmente morrer pelos mais diversos fatores. Mas no final do dia, é bem satisfatório conseguir ler os resultados e ver que os testes realmente funcionaram. Agora mais para o final do ano, estamos em vias de publicar um artigo científico com o nosso aprimoramento desta técnica do PCLS.

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Fisico-Química: sim, vc ainda vai utilizá-la mesmo que faça medicina!

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Contagem diferencial de células com as lâminas que fizemos a partir dos experimentos “in vivo” com os ratinhos

O outro projeto (e que eu pessoalmente acho até mais legal) é com insulina inalável. Sim, insulina, essa mesma que é usada para diabéticos, ao invés de ser administrada com injeções subcutâneas (como classicamente é), agora também está sendo disponibilizada por via inalável (um mecanismo parecido com a “bombinha” para asmáticos). Imagine só como deve ser maravilhoso para um diabético poder trocar suas injeções diárias por uma “bombinha”! Pois é, é justamente por isto que fico tão empolgada com este projeto…tem um impacto direto na qualidade de vida dos pacientes! Na verdade esta “bombinha” de insulina já foi aprovada e disponibilizada para uso clínico, mas alguns médicos (e pacientes) ainda se sentem um pouco receosos em utilizá-la devido ao fato de ser um medicamento novo e, portanto, ainda sem muito background de pesquisa para comprovar seus potenciais efeitos adversos. E é justamente aí que entra a nossa pesquisa. Fizemos um projeto bem grande envolvendo mais de 100 ratinhos, nos quais duas vezes por dia fazíamos instilações intra-traqueais de insulina (o equivalente à simulação da “bombinha” para os humanos…a “grosso modo” isto significa chegar ao pulmão de cada ratinho pela boca com uma agulha comprida de ponta circular e injetar a insulina com uma seringa acoplada à agulha diretamente dentro do pulmão). Isto requer uma logística bem organizada e muita atenção pois, além do risco do procedimento em si, para fazer estas instilações os ratinhos têm de ser anestesiados e a anestesia pode gerar uma depressão respiratória grande…ou seja, eles podem morrer durante o procedimento…e fazer isto cerca de 40 vezes por dia exige muito esforço e trabalho em equipe. Ao final de 12 dias repetindo o procedimento 2x por dia (sim, isto inclui um fim de semana trabalhando a cada “batelada” de experimento), os ratinhos foram sacrificados e nós coletamos amostras de plasma e soro do sangue deles e – o mais importante – enviamos os pulmões para análise metabolômica. Esta análise consiste em avaliar se os produtos do metabolismo (funcionamento) dos pulmões foi diferente entre os ratinhos que receberam doses mais altas ou mais baixas de insulina em relação àqueles que não receberam nada. Isto permitirá que tenhamos mais substrato para afirmar se a insulina inalável altera (ou não) o funcionamento normal das células pulmonares e, assim, dar mais segurança (ou não rsrs) aos médicos e pacientes que fazem uso desse novo recurso. Ainda não sabemos estes resultados (precisamos esperar as análises ficarem prontas), mas estamos ansiosos para as próximas conclusões.

Para os próximos meses, os projetos envolvem conciliar estes dois temas: PCLS e insulina inalável. Será que conseguimos avaliar os efeitos da insulina nas fatias de PCLS ao invés de utilizar o Zinco? Bom, isto é tema para os próximos capítulos rsrsrs… enquanto isto, vamos trabalhando em outros projetos um pouco menores (mas não menos importantes).

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Ratinhos dormindo – não dá pra não achá-los bonitinhos…

Como eu já disse em um post anterior, pesquisa é semelhante a um jogo de “batalha naval”…em meio a muitas tentativas “água”, o PCLS com Zinco foi um “fogo” (rendeu uma boa publicação)…a insulina inalável muito provavelmente será outro “fogo” (é, às vezes tem um leve “atraso” entre atirar e saber se é “água” ou “fogo”)… agora, será que PCLS com insulina inalável podem estar no mesmo barco? Hm, pra saber só atirando de novo várias vezes… Já que está na “minha vez de jogar”, que comece mais uma semana de tentativas!

 

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