Se não fosse a tuberculose
Por viver, ele viu.
Viu como um danado
Enxergou sua aldeia e compreendeu sua realidade.
Viu tanto, porém, que sua vista cansou e perdeu a visão.
Então ouviu.
Escutou sons graves e agudos.
Soube que o mundo era feito de sons reais e diferentes uns de si.
Mas seus ouvidos tiniram e seus tímpanos destruíram-se.
Em seguida cheirou.
Cheirou o perfume das “flores”.
Soube que o mundo era feito do cheiro das flores,
Mas não de flores.
Nuca mais teve essa certeza.
De repente, um cheiro entrou e impregnou seu ser.
Sem poder cheirar outro cheiro, seu nariz perdeu a função.
Desaprendendo, aprendeu a tocar.
Tocou o mundo e soube, portanto, que estava no mundo.
Mundo esse quente e frio.
Seus dedos queimaram e caíram congelados.
Sobrou o paladar.
Esse se foi breve.
O veneno queimou sua língua.
Sem os sentidos, a vida, ausente de sentido, virou incompreensível.
Só com sua mente, virou filósofo.
E Alberto Caeiro, como poeta da Natureza, morre.
Fora buscar os deuses…
Morre, porém, contente, porque a realidade não precisava dele.
Roberta Saldanha da Silva Berardo, 3E1