Álvaro de Campos:
Hoje não existo. Não sou.
Estou convicto de que não mais existo,
Porque quem existe, conhece o teu corpo o teu ser a tua alma.
Eu, não conheço nada.
Logo, não sou nada.
Nem posso mais ser nada além do nada.
Não hoje, não amanhã.
Nem depois do depois de amanhã…
Ontem, fui bruxo, fui mago, fui industrial,
Vesti a sombra e processei a alma.
Ela eletrizou mecanizou modernizou algoritimou reificou apenas para se tornar obsoleta!
Quando quis voltar, estava submisso à sombra.
Agora, escrevo estes febris versos.
São verdades?
Não sei.
Mas certamente não mais companheiros fiéis de outrora.
Não completam não conhecem não falam as minhas palavras.
Estou enlouquecendo.
Será que ainda existe versos genuínos que consolem este órfão do advento?
Resposta de Alberto Caeiro:
Meu caro discípulo e amigo,
Sei a verdade porque não penso.
Tenho sentidos, não falaciosas filosofias…
Minha alma é nua.
Uma rosa é apenas uma rosa.
Nasce, brota, floresce e murcha,
Para desaparecer nos ventos e na terra.
Não é o amor, a paixão, o mistério ou o ódio.
Se vemos flor, para que nos iludirmos?
Se queres ver com a mesma verdade com que vejo,
Andes com mais calma pelas estradas da vida,
Cada momento é um momento novo.
Respire. Cheire. Toque. Veje.
Despides de todo o resto…
E uma nova criança nascerá ao mundo…
Resposta de Ricardo Reis:
Caro angustiado irmão,
Não canse tua alma criança,
Diagnosticando loucuras do Fado.
Até os deuses sabem:
O que é será sempre.
Pois que guarde a pequenina,
Sob o regaço das Estrelas, que
No mínimo que fazem, eternas são.
Descobrirás com elas:
No alto tudo brilha.
Cristina Su Liu, 3E1