Se eu pensasse em te escrever uma carta, teria em mente que não poderia colocar “querido” no cabeçalho. Não por você não ser querido por mim, ao contrário, te quero até demais. E sim porque ao mesmo tempo em que te quero, sei que você também me quer mas foge disso. Então, por amor, compaixão ou chame do que quiser, eu facilitaria sua fuga. Não colocaria mais sentimento onde você tenta enterrar os que já existem. Deixaria você, levando o que sobrou do meu coração. Deixaria você ignorar uma possibilidade de futuro com alguém que te ama de verdade apenas por preconceitos bobos. Você é todo bobo, não é mesmo? Por isso não escreveria um endereço. Se for para te deixar fugir, vamos começar por não te contando o caminho de volta. Vá, mas não volte. Tenha certeza de que longe você será mais feliz que ei de dormir com o coração tranquilo. No corpo do texto, não poderia te pedir pra ficar, não poderia dizer o quanto te amo. Tenho que deixar livre. Não posso usar chantagem emocional expondo o que está dentro de mim. Você deve pensar por você e só por você. Para encerrar, seria impossível afirmar que ficarei bem. Seria uma mentira deslavada daquelas que ninguém acredita. Como um todo, percebe-se que não poderia ser uma carta de despedida, tão pouco um pedido de permanência.
Sorte que eu nunca pensei em te escrever nada.
Victoria Nunes, 2B2