6 de Maio
Não consegui dormir, fiquei me revirando na cama por horas, não consegui nem ao menos sentir sono, suava frio, estava trêmulo, algo me preocupava, mas não sabia exatamente o que. Até que abri os olhos e me levantei. Tudo estava escuro, nem sequer uma única fresta de luz entrava no quarto, não conseguia ver minha mão em frente ao meu rosto. Joguei meu corpo um pouco para a esquerda da cama cautelosamente para não cair. Peguei a caixa de fósforos que deixara no criado mudo, fechei os olhos para não me cegar quando o acendesse e ao ouvir o barulho da faísca fui levantando minhas pálpebras até me acostumar com a claridade. Procurei pela vela que vira mais cedo em alguma das prateleiras do quarto. Apaguei o fósforo que me queimava os dedos e ascendi um novo, me locomovi até a prateleira, apaguei o fósforo e ascendi um terceiro. Finalmente pude ver melhor o quarto. Fui até o espelho no canto do quarto e comecei a me examinar de cima a baixo. Estava mal, parecia um doente, minhas unhas, cabelos e barba estavam maiores do que quando fui me deitar e meus olhos estavam roxos, como se tivesse levado um soco em cada um, com olheiras e ramela. Rondei pelo quarto e vi que em frente à janela havia uma espessa cortina de veludo negro. Incomodei-me com aquilo, rondei mais um pouco pelo quarto e notei algo no mínimo peculiar, sem considerar a cama bagunçada, aquele lugar parecia nunca ter sido tocado, tudo estava na mais perfeita ordem, então decidi sair do quarto para explorar a casa ou andar pelo jardim, qualquer coisa que me tirasse os pensamentos.
Ao sair do quarto notei que havia outro ponto de luz na casa, uma lareira, por um segundo me senti aliviado. Dirigi-me cautelosamente para o local e vi que havia uma pessoa sentada na poltrona em frente à lareira. O fogo crepitante criava trêmulas sombras por todo o corredor. Quando cheguei lá me dirigi à senhora que estava sentada, levei um choque: era a mulher que me dera o terço. Estava pálida, seus olhos estavam arregalados, brancos… mortos. De súbito me virei. Sentira um odor de sangue extremamente forte: vi dois pontos vermelhos que pareciam flutuar no ar, eram olhos, iguais aos do conde, eles se aproximavam cada vez mais, não pude me mexer, parecia estar hipnotizado, sua desumana face foi se formando na minha frente, ele abriu a boca e seus maciços caninos foram crescendo, até que caí no chão. Respirava ofegantemente, não achei que meu corpo sobreviveria àquela noite. Olhei para Drácula como se clamasse por misericórdia, para que ele acabasse com aquilo logo. Ele abriu a capa como se fosse um morcego e rugiu como um leão, parecia estar com raiva, ódio. A criatura então deu meia volta e fugiu. O portal pareceu ter explodido e um morcego humano saiu da mansão. Ele fugira de mim. Não entendi nada, até que olhei por baixo do meu pijama, algo pesava. Meu terço.
Gabriel Mazzante (8E)