Ó tão ilustre e assaz caro Drummond
Explica-me o motivo pelo qual
Te é o verso livre caro e bom
E o rimar a mim tão caro te é mau.
Explico:
Luís
Não tenho razões pessoais
Contra ti
Mas escrevo sem a rima e com o versilibrismo
Porque a poesia é mais
Que a redondilha
Como a culinária é mais
Que as panelas
Porém, senhor de tão seleto grupo,
O verso livre inova tanto a poesia
Como inova o churrasco o comer cru
Ou a esmola o estender a mão vazia
Desvirtua-se o poema e perde o fruto
Chegando até a dar-me alguma azia
Se poeta queres ser usa a rima
E a métrica que tanto te irrita
Enterogastrite me dá, Luís,
A pobreza
A futilidade
O vazio
Dos versos diligentemente escritos
Mas feitos de pedantismo estrito
Cuja forma esconde o saber restrito
E quanto ao churrasco, tchê
Sou um gauche, que é quase um gaúcho
E não venha, portanto, querer ensinar-me
O que aqui inova
Ou não
Deixemos por hora esse assunto de carne
Que me dá sono
Ora pois, amigo Carlos,
Pensas que não são profundos
Tantos sonetos que faço
Uhm… Que posso rimar com “profundo”?
Se eu me chamasse Raimundo
O meu nome ali serviria
Entretanto, Camões, todo o mundo
Sabe que me chamo Carlos
Que parece com “Carne”
Que sono!
Deixemos Carlos Raimundo Drummond
(Se assim a mim me permites chamar-te)
Assaz aborrecida, vã discussão
Cujo fim poderá até ser de sorte
Que dois bons amigos briguem em vão.
Levando inclusive um ao outro à morte
E faço-te aqui um real verso livre.
Hehe, e dar-te um gosto desse calibre?
Quem dera!
André Nunes Conti (3E1)