Uma imagem fantástica na avenida mais famosa de São Paulo:
Um garoto de mais ou menos 16 anos se posiciona nu, com apenas purpurina em seu corpo, na frente de um espelho
As pessoas o olham
Umas dizem ser arte; outras, um atentado ao pudor
Alguns riem. Já outros tentam entender
Muitos dizem que não há o que entender
Todos passam por lá
Olham pro lado. Veem o garoto
Mas observam o espelho
Sorriem pra si mesmos. Arrumam o cabelo. Trocam piscadelas com seu próprio reflexo
O garoto quase despercebido
Ainda assim, a mídia não para
Manchetes e mais manchetes sobre o menino que posou nu com o corpo brilhante na Avenida Paulista
Todos passavam pelo espelho
Olhavam o garoto. Desviavam. Voltavam-se ao espelho
O comportamento era quase unânime
Menos por parte da mídia, que não parava com as fotos. Dos conservadores que se revoltavam com o absurdo. Por fim, do garoto de 19 anos que encarava o desnudo de corpo brilhante
Ignorava suas vergonhas
Aproximava-se com seus passes leves
Finalmente, beijou-o
Não largava o cigarro que fumava
O beijo foi longo
Mais notícias da mídia: “garoto de 19 anos beija o suposto artista nu na Avenida Paulista”
Brilhos para tudo quanto é lado
Purpurina nos corpos, no chão
Estrelas nas mentes dos garotos
Fogos de artifício explodiam em suas almas
O artista havia finalmente encontrado alguém
Alguém que deixava seu narcisismo de lado para aproveitar os prazeres a dois
Alguém que soube apreciar algo mais profundo que o súbito absurdo
Claramente, eles haviam se encontrado em suas almas
Enquanto isso, as pessoas passavam
Olhavam os dois, agora de mãos dadas
Desviavam o olhar e se voltavam para o espelho
Pelo menos, é assim que ambos se enxergavam na multidão enquanto tomavam café e comiam pão juntos na manhã de um domingo
Em algum barzinho com espelhos na Avenida Paulista
Eles se amavam
Beijavam-se
Sorriam
Gabriel Marques 3H1
