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03/09/2014

Estudo analítico das particularidades do meu sono

#Prata da casa #Produção de alunos

Estudo analítico das particularidades do meu sono

Publicado em 03/09/2014 07:00

As artes de seu inconsciente eram o berro mais legítimo de sua alma, a prova mais infalível de que existia, nas profundezas de sua existência, algo que transcendia completamente o seu ser de todos os dias. E seu inconsciente cantava quando ela dormia.

Nas canções da noite, ela descobria um mundo que não era bem mundo, não era bem éter, não era bem tempo ou espaço. Era só sua alma refletida em histórias.

Havia cantos da noite em que ela apenas observava… Uns tantos devaneios, umas tantas aventuras, umas tantas amizades e romances e jornadas que nunca existiram. Sob as estrelas infinitas de um céu em negro e violeta, ao redor da lua, numa poça de nebulosas. Flutuando.

Uma única certeza: quando seu inconsciente, ternamente e sem se fazer perceber, se sentava na beirada do travesseiro e começava a entoar aquilo tudo, ela ia embora desse mundo doido, dessa terra real onde tudo é tão triste, com cor de grafite de lápis e cheiro de lágrimas escondidas no banheiro.

Na terra sem chão das suas noites, ela tinha importância e deixava de ser só uma sombra no cotidiano alheio, só uma na multidão ou só um tijolo no muro, daqueles tijolos que ficam dentro da parede sem que ninguém os veja.

Não, as noites a tornavam dona de suas histórias, e era pessoa mais querida pelos personagens que seu inconsciente inventava.

Porém o inconsciente era um gênio imprevisível, que gostava de surpreender, e às vezes tinha a estranha ideia de mergulhar sua mão impalpável no mundo dos vivos e de lá tirar inspiração para o seu cantar.
Ocorria de sua mão trazer folhas de provas escolares que ainda não tinham sido feitas e que causavam imenso temor.
De vez em quando, furtivo,  esse mestre conseguia trazer junto os professores, com seus sermões de arrepiar qualquer aluno.
Uma vez, trouxe um parente morto que ressuscitava. E um parente vivo que morria. Trouxe amigos de diferentes círculos, gente que nem se conhecia e que, nas mãos do inconsciente, passou a se conhecer.

Foi assim, que certa noite, chegou um convidado especial. A Pessoa. E no sonhar da sonhadora, muito diferente da veracidade assombrosa de seus dias, a Pessoa lhe deu atenção e viajou com ela. Abraçados, riram como dois idiotas e percorreram os caminhos daquele mundo que não era bem mundo. Mais do que amantes, tornaram-se uma dupla intrépida. E assim foi durante aquela noite, e durante outras noites que vieram a esmo depois dessa.

Mas então, todo dia, para espanto e desgosto total, o despertador soava, estrondoso e aflitivo, arremessando para o vácuo a Pessoa e o inconsciente – o grande artista. No frio das manhãs reais e horrivelmente táteis que vieram cedo demais, a menina se esforçava para lembrar do que vira – ou vivera –de madrugada. Mas raramente alcançava algum mérito.

Essa era a marca misteriosa que o inconsciente deixava, como cantor que só tem voz à noite, ser que não existe e faz questão de agir, tecendo contos maravilhosos que são desfiados com o raiar assustador do sol literal. A menina nunca compreendeu o porquê de aquela entidade, que vivia alojada nos porões de seu cérebro, nunca ter tentado dar uma razão à sua existência literal. Talvez a vida, agora escura e pesada como as cortinas do colégio, pudesse ter um brilho semelhante ao das histórias da noite, que a menina tentava recordar e jamais conseguia.

Fernanda Atihe (1A2)

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