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22/08/2014

RECOMEÇO

#Prata da casa #Produção de alunos

RECOMEÇO

Publicado em 22/08/2014 07:00

Escancarou as janelas. Fez a cama. Começando pelo lustre e terminando atrás da penteadeira, tirou o pó de tudo. Queria o quarto perfeito, sem vestígios seus, como se nunca tivesse havido todo o tempo que dormira lá. Seguiu para o banheiro e debruçou-se sobre a pia. Umedeceu os olhos. Enquanto secava o rosto, teve a impressão de sentir cada fio da toalha acariciando individualmente sua pele. Era como se um manto suave aliviasse aquelas bochechas maltratadas e castigadas a tapa. Como seria bom não o ver novamente! Sorriu, boba, com a boca ainda coberta pela toalha, mirando o próprio reflexo no espelho. Se tivesse atentado para sua própria imagem antes, pensou, não estaria ali. Não estaria aqui! Deixou uma mensagem a batom vermelho no vidro: TCHAU. Em uma ânsia quase maníaca, esvaziou todos os vidros de perfume que encontrou, pote a pote, em um prazer tão sádico quanto compreensível. Como ele ama estes perfumes, meu Deus! Fez questão de encher novamente todos os vidros com água da torneira. Ele não notaria a diferença no volume de líquido, afirmou para si mesma, nem mesmo nesses perfumes! Por mais que amasse cada uma daquelas fragrâncias enjoativas (eram sempre doces demais ou insuportavelmente cítricas – ele não era o que se pode chamar de um homem moderado), não notaria as diferenças de volume. Ué, este Mont Blanc estava cheio até a boca… O CK já estava quase no fim! – Improvável. Dedicava aos detalhes cotidianos o mesmo tanto de atenção com que a presenteva todas as noites. Mas quando fosse usando, e usando, e usando, e percebendo a diluição anormal de cada uma daquelas substâncias… Riu com o canto da boca. Ele explodiria, sim; mas, pela primeira vez em quase doze anos, ela não estaria por perto para servir de válvula através da qual ele drenaria seu ódio. A projeção da cena em sua cabeça a divertia, sim, mas amedrontava também. Chacoalhou os ombros na tentativa de limpar a mente. O zíper provocou um ruído incômodo quando fechou a mala. Apagou as luzes depois de visitar cada recanto do cômodo com a vista pela última vez e saiu. Levava a bagagem em uma das mãos e o que restava a ela de dignidade na outra. Sentia-se em paz.

José Henrique Ballini Luiz (2H1)

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