Te reconheço em tantos ângulos diferentes, te separo em tantos fragmentos para caber no meu pequeno espaço de memória, desejo incessantemente aproveitar cada retalho seu, mas logo me perco no que parece ser sua boca, ou um fio de cabelo, nem Picasso reconheceria. Então, como em um piscar de olhos, você é toda dadaísta, aquela poesia vira um monte de palavras recitadas ao vento que foram arrancadas do mesmo jornal e recortadas do mesmo artigo, e, pronto, você já não faz sentido algum. Uns enxergam arte, outros, caos. Cadê sua coerência, menina?
Há dias em que eu poderia jurar que Munch quem te desenhou, quando resolveu personalizar todo o desespero que cabe em mim. Você é todos os franzir da minha testa, toda a subjetividade do meu peito, e ainda insiste em se caracterizar assim, em tons entristecedores.
Como se não bastasse, você me aparece chovendo em todos os lugares. Dentro dos meus sonhos, no meu inconsciente, derretendo a minha memória, basta fechar os olhos. E logo depois que desiste de descobrir se isso é ou não um cachimbo, vira onomatopeia, figura de linguagem, sempre dois passos a frente, quase como um carro que voa pelas ruas que ainda não lhe cabem. E eu, eu não consigo te acompanhar, você escapa antes mesmo de eu levantar. Pois é, você é a maior manifestação vanguardista que esse planeta já viu.
Maria Vitória Vidal (3H3)