Hoje passei a tarde ouvindo Chico. Passei a tarde ouvindo eu, e outras Leilas, Ninas, Ritas, Joanas e ruivas de cabelo abóbora que por aí amam. Passei a tarde rodeada de rosas e executivos. Passei a tarde sob o aroma do café brasileiro, o café forte e intenso. Mas de almas nem tão fortes, e muito menos intensas… Passei a tarde ao lado de faces escondidas por trás de mentirosos de idade, ou de punhos e pescoços entupidos de diamantes. Passei a tarde arrepiada dos pés à cabeça, temendo levantar os olhos. Fixei-os na pequena torta de maçã que passei a tarde saboreando. Como era pequena, miúda sobre um prato branco e sem graça. Passei a tarde construindo enormes edifícios, extremamente diferentes uns dos outros. Mas eles estragavam a paisagem, e o cheiro das rosas se esvaía. E assim se fez minha tarde, meus dias, meus outonos todos. Um céu azulado e seco, ao som de uma trilha doce, e almas tão vazias.
Giulia Secchieri Borducchi, ex-aluna 2013
