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26/05/2014

#Prata da casa #Produção de alunos

Publicado em 26/05/2014 07:00
Jazia no chão o que já fora um venusto buquê, e, agora, não passava de uma lúgubre rosa, ludibriada e esfarrapada rosa, adulterada assim como sua congênere, aquela mulher que, em prantos, berros e desabafos, chorava por seu amor, seu não retribuído amor. O homem, superior, altivo, se encandeava com a ideia funesta de fazer aquilo que fizera e que continuava a fazer e que continuaria a fazer por ser seu destino manifesto, seu dever divino, pois assim era feito desde o início dos tempos. Ele contemplava seu fumo com ar estulto, portando-se de forma superior. O que já fora uma cena de lar calmo e amoroso era agora esse lar macabro e adulterado, destruído pela briga de dois amantes. Vasos quebrados, tecidos e almofadas rasgadas, cortinas não mais intocadas, tudo resultado dos passados arrufos. O julgamento final do homem era ali e naquele momento, que, de forma superior, julgava sua mulher gostando disso.
    O outro homem já estava longe dali, moralmente langoroso e desgostoso após tamanha humilhação, se perguntava se tudo que tinha feito teria valido a pena. Não conseguiu achar respostas. Caminhou até sua casa no alto do morro onde sua família lhe esperava, imaginando que estivesse voltando de mais um biscate após o serviço convencional. De volta à casa, malas esperavam por sua dona na porta. A mulher, ajoelhada, pedia perdão. Não foi atendida, levou apenais mais uma chapada de seu marido que, com ódio no olhar dizia palavras fortes que oscilavam desde a mais melancólica tristeza até a mais rancorosa cólera que um homem poderia expressar. Caminhando com cabeça baixa saiu da casa e andou, andou, andou e andou até se perder de vista.
    O homem voltou para dentro de casa, sentou-se em sua poltrona e começou a enrolar outro fumo para mascar. Olhava para um ponto fixo na sala: o retrato de sua mulher. Era impossível dizer que não estava triste, mas seu olho não molhava, o molhado não virava lágrima, a lágrima não caia…não havia água que lagrimejasse pois ele estava seco, estava seco, petrificado, congelado…e quem está assim não chora, quem está assim tem apenas o gozo de presenciar o pior tipo de tristeza existente, a tristeza interna, a que fica retida no corpo e não sai, a que congela o coração e deixa transluzir um falso conformismo, e assim foi.
    Após dias vagando pelas ruas do Rio de Janeiro, a mulher adúltera encontrou uma moradia provisoria em um albergue. Arrumou suas coisas e decidiu reconstruir sua vida. Iniciou um pequeno negócio de costura, que logo se tornou próspero e conhecido. Decidida estava ela a transmudar sua vida, porém, as recordações e memórias de seu homem não permitiam que tal façanha fosse alcançada e o homem nunca saiu da cabeça da mulher adúltera, que toda noite chorava angustiada pensando na perda e nos erros que cometeu, a real visão do arrependimento do pecado, uma tristeza boa que reconstrói e conforta, que dá esperanças e promessas…e assim perdurou. O homem, fora de suas expectativas de superioridade, tombou em profunda depressão por sua mulher. Não chorava, apenas olhava para o retrato dela, tão logo deixou de trabalhar, passou a viver com a pensão que recebia do Império pelos serviços como general, começou a ficar quase sempre em casa, indeterminadamente, casa sombria, esfumaçada, desacomodada, e, de tempos em tempos, saia para apostar em mesas de jogo e para beber, talvez para esquecer, talvez para aliviar sua dor ou até mesmo os dois ao mesmo tempo. Assim que os dados tilintavam no doce carpete verde da mesa, mais réis eram perdidos e voltava para sua casa a passos largos e vacilantes, cara abatida, olhar cabisbaixo e uma garrafa de pinga na mão, aos olhos de quem visse um moribundo bêbado de poucas honras a quem se devia faltar com atenção, na verdade era o homem que comandou batalhões outrora em guerra com os caudilhos e que se perdera em tristeza e ódio devido a sua mulher. Em pouco tempo, não mais saía para jogar. Passou a ter uma aparência horrível, barba crescida e mal-cortada, cabelo desgranhado, dentes amarelados, bafo de álcool e sempre o mesmo pensamento e olhar fixo no retrato.
    Determinado dia recebeu uma carta logo pela manhã. Olhou-a por longas horas até decidir abrí-la. Pegou seu punhal e abscindiou o envelope com vagarosidade e movimentos leves e despreocupados, tristes como costumeiramente. Leu a carta e, aos poucos, passou a demonstrar um olhar quente e interessado, seu coração passou a bater mais rapidamente e em uma mescla de felicidade, raiva e arrependimento seu coração esquentou, derreteu todo o gelo, que virou água, então essa água virou lágrima, essa lágrima caiu e a tristeza saiu de seu corpo, e o deixou livre, com o melhor tipo de tristeza que existe, a que você libera e que te conforta, assim em prantos terminou de ler a carta.
    Logo, o homem saiu correndo de casa em direção ao endereço que a carta continha. Uma alegre, rica, formosa e impotente casa. Perguntou sobre a dona e saiu em disparada à Igreja. Lá viu sua mulher grávida de seu filho casando-se, alegre, feliz, próspera, esbelta, nem mesmo o reconheceu ao passar por seu homem no portal de entrada da casa de Deus. Ao ver aquela cena seu coração se quebrou e ele pasmou, acabado, saiu a andar pelas ruas da Capital.
    Andou então até seus pés sangrarem e, depois, andou ainda mais. Andou até as nuvens e depois até as estrelas, andou até mais além do céu. Ali, então, parou, e esperou por sua amada, com tudo que sempre prometeu a ela, o céu, a lua, as estrelas.
Jonas Frucci (8B)
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