Não sei se foi sempre assim, mas quero ter um narrador onisciente contando minha vida. “Ah, antes tivesse fumado um pouco mais…não era disso que iria morrer mesmo” Seria bom ter alguém me avisando quais são as consequências dos meus atos. Não precisaria estragar tudo, só abriria a boca quando eu pedisse – acho que, dessa forma, poderia ser aceitável. “Não serviria para coisa alguma, ele nunca iria saber…” Talvez, fosse mais fácil dormir. Entenderia melhor os meus limites, faria meu molde mais exato. “Ele se arrependeria se o fizesse?” Não seria essencial que ele contasse tudo de maneira clara, acho que sei lidar com perguntas, frases interrompidas e até uma ou outra mentira – mas só para que eu pudesse rir e, se possível, de maneira degradante. “Sentiu que não era necessário, então deixou de reprimir” Às vezes, percebo em outras pessoas um certo talento para narrar minha vida. Não que seja preciso alguma aptidão ou coisa do tipo, não sei bem o que elas têm. É por isso que, em determinados momentos, atribuo essa função às pessoas. Se elas notam, não tenho certeza, apesar de isso não fazer diferença – a projeção é minha. “Fica calmo, você vai terminar!” Uma hora diz E., outra diz F. – a ordem alfabética não tem importância, na verdade. Nem sempre são previsões sobre o meu futuro, digo, não são previsões. Conselhos? Acho que é por aí. Eles poderiam traçar a rota, deixando que eu só caminhasse por ela. Se bem que… isso também acontece – aliás, costumo não gostar disso. “Ele só deveria ter tido paciência” Os narradores estão contando o que eu sinto, eles falam até demais. Confio numa ou na outra versão? Meu único problema é aceitar essas possibilidades ou essa possibilidade e torná-la parte da sequência.
Thiago Leão Antunes (estagiário de Português e corretor de redação)