Em um pequeno calhambeque, discutiam dois velhos. Dava sempre em briga.
— Esse não é o caminho certo.
— É sim.
— Como é que você sabe?
— Eu sei, oras.
— Mas o sol está para aquele lado, nós estamos indo para norte, ou seja, estamos errados.
— Mas não estamos.
— E como você sabe?
— Eu li num livro.
— Leu o quê?
— Que o caminho é esse.
— E daí?
— Eu acredito.
Em um pequeno calhambeque, discutiam dois velhos. Dava sempre em discórdia.
— Por que você parou?
— Porque o sinal está vermelho.
— Mas não tem mais nenhum carro por aqui!
— E daí?
— Pode seguir!
— Não.
— Por que não?
— Porque seria um desrespeito à lei.
— Mas não tem mais ninguém aqui, qual o problema?
— Desrespeito à lei resulta em punição.
Em um pequeno calhambeque, discutiam dois velhos. Dava sempre em violência.
— A gasolina tá acabando.
— Ele aguenta um pouco mais.
— Vai acabar, melhor parar pra abastecer.
— Ele não vai nos deixar na mão.
— Se você não alimentar, ele morre.
— Ele vai nos levar aonde precisamos ir.
— E aonde precisamos ir?
— Em frente.
Em um pequeno calhambeque, discutiam dois velhos. Dava sempre em guerra.
— A gente tá indo rápido demais.
— Pelo contrário, não estamos nem nos movendo.
— Como não?
— Estamos parados.
— Claro que não! Estamos indo em frente!
— Não saímos do lugar.
— Mas você está pisando no acelerador, criando uma força que impulsiona o carro para frente!
— E como você sabe?
— Eu li num livro.
— E daí?
— Eu acredito.
Em um pequeno calhambeque, discutiam dois velhos. Dava sempre na mesma.
Lucas Akio Nakamura, 2H2