Fiquei sete anos no Band, sete anos aprendendo e tendo aulas. Amei incondicionalmente e insanamente a História, pela qual já tinha gosto desde criança. Odiei a Física e a Matemática, que me atormentam até em sonho. Mas uma coisa engraçada é a minha relação com essa tal que o poeta do qual vocês tanto desdenham (não adianta negar, Bandeiristas e Drummondistas de carteirinha!) chama de a mais bela e inculta flor do Lácio. Para mim, de todos os professores, a Cátedra de vocês é que mais sabe se fazer gostar. Vocês tem ao seu lado uma artimanha que Virgílio ou Pitágoras nenhum tem, artimanha esta que é analisar o sentir. Ora, se nos ensinam sobre o que foi escrito, poetizado, sobre como as palavras ganharam sentido e ganham sentido, ensinam sentimento, ou melhor, passam sentimento, já que a maior forma de expressão é a palavra. Também têm ao seu lado uma língua que ajuda muito, afinal, onde mais encontraríamos os neologismos do Guimarães e a poesia do Drummond? Com vocês e com o amor de vocês pela língua eu aprendi muita coisa, além e aquém das classificações dos movimentos literários, das estruturas “gramaticais” e das pontuações, estas capazes de mudar um mundo em apenas uma ocorrência ou ausência (coisa que aprendi com vocês). Não sei se é coisa de família ( ainda que de coração), já que minha avó era também professora da língua, mas tenho certeza de que essa tal flor, quando explicada, é o que nos permite entender e viver o mundo como ele é, cheio de sentimento e aumentar nossa família de amigos, da qual vocês agora fazem parte, num lugar que me é mui caro e especial. Enfim, parodiando Pessoa: As professoras vendem quando dão. O preço desse apreço que me incutiram é a capacidade de entendê-lo , já que na língua que vocês ensinam tem uma palavra que nenhuma outra tem, e que vocês agora são responsáveis pela ocorrência em mim:
Saudade.
Um grande abraço, muita gratidão,
Caio Duarte, 3H2