“E essa minha mania de me entregar às palavras? Para que elas, em um movimento involuntário de fagocitose me envolvam e me engulam sem ao menos dar-me uma expectativa de escape, e, quando dou por mim, já estou perdida por entre antíteses e personificações.
Mas me diga você, então, que instrumento tão poderoso é esse? Como alguém consegue nos influenciar, nos emocionar, fazer da gente quem a gente é com alguns pinguinhos de tinta em uma folha branca? Ou esses brinquedos são muito poderosos, ou as pessoas são mais dúcteis do que qualquer um poderia um dia imaginar.
A abstração que me mata. Uma palavra em si não é nada. Já a ideia que se esconde atrás dela, por outro lado, carrega uma força, um significado que lhe é peculiar. Um sentimento absurdo.
Já diria Clarice Lispector, toda palavra tem sua sombra.
E esta tal sombra é construída a partir de suas experiências, dos seus amores, das suas vivências, dos seus desejos, da sua personalidade, ao mesmo tempo que os constroem. Por isso mesmo eu digo, a palavra nada mais é que um conjunto de símbolos, e me apego a esta definição também metaforicamente.”
Julia Barros (pseudônimo), 2H1