Por Luca Gonçalves, 3H2.
“Sai um senhor que,
interessantemente, se traja e se porta como idoso,
de uma grandíssima porta enfiada
e esmagada entre sujíssimas construções que são,
para alguns, lares, mas,
para mim, mais um grande retrato da tristeza do capitalismo objetivista.
A luta pela sobrevivência da cidade se estende para as paredes do casebre – plantas, cabos, fios, grafites – não saberia afirmar sem a assistência de Darwin quais ganhariam
mas, sei apontar que o homem travava alguma atividade
entre as ferrugens que engoliam seu portão
(que semelhante ao dono, se portava como idoso, grunhindo e sendo feio).
O que faz agora este velho estagnado entre o primeiro e segundo passo de volta? Será que ele se esquece do tempo, ou se lembra que já viveu?
Viveu, por um tempo, sem o tempo, sem o fim ou o meio, só viveu.
Agora, ele, sistematicamente, voltava para a fechadura,
que consertava há segundos,
(me respondendo o que laborava de tanta importância
para o quebrar de sua rotina diária).
Consertou a dita cuja, e resmungou pelo desconforto de sair para a imundez e poluição que somos expostos nas ruas.
Abriu a porta (e como era grandíssima!)
e descontou a raiva na escada e nos degraus que subia (acho que também na porta do quarto).
Pela janela viam-se as orelhas do homem sustentando seus óculos que brilhavam e piscavam um azul, amarelo, agora preto e presumia-se que vinha da TV.
Presumia-se que os olhos se comprimiam.
Que as imagens se sucediam numa ordem que era quase perfeitamente igualável à sujeira das ruas. E, eu presumia tudo o que aconteceu. E a sociedade segue… observa… presume (entre sujeiras, prédios e, ora sim ora não, entre grandíssimas portas) vivendo a economia na morte da história e no aborto de classes literárias.”