Por Amanda Sadalla, 3H2.
Hoje quando cheguei em casa abri o Facebook e vi que muitas pessoas estavam compartilhando um texto.. Fui checar o que era, um texto sobre “ deixe as gordas em paz” e gostei, gostei muito. Como intrometida, falante e hiperativa que sou, não me contive para me manifestar sobre o assunto. “Gordo e Magro.” Tenho imensa curiosidade para descobrir quem é o autor ou os autores destes termos ( e dar-lhes alguns tabefes..). Procurei no dicionário: Gordo: Que tem muita gordura. 2 Semelhante à gordura. 3 Que tem muita matéria sebácea. Magro: 1.Que tem falta de tecido adiposo, que tem poucas carnes, em que há pouca ou nenhuma gordura ou sebo. Percebem? O que nasceu como somente adjetivos para caracterizar a presença ou não de gordura no corpo, transformou-se, foram “adjetivados” pela sociedade. O gordo, torna-se sinônimo de feio, preguiçoso, algo negativo e o magro: o belo, o saudável, o admirável, o necessário.
O tal texto que li hoje foca nas mulheres. Pois bem, sou mulher, com 17 anos pode ter certeza que o magro e gordo estão ali todos os dias convivendo comigo. Não, não digo uma pessoa magra e outra gorda, digo o “Amanda.. Amanda.. está roupa está marcando aquela gordurinha ai do lado.. Amanda Amanda.. e essa celulite? Acho que você emagreceu um pouquinho…”viixi”, engordou de novo! Amanda.. e esse inchaço ? É a TPM né ? Amanda.. Amanda.. você vai ter mesmo coragem de mostrar a barriguinha ? hm…” Pois é, essa voz, sou eu mesma. Essa voz, é você mesma. Nós a criamos, nós a mantemos em nossa cabeça, nós lutamos contra ela.. E por que ela não vai embora?
O que me tira do sério é não conseguir compreender porque a magreza associa-se à beleza. Ok, concordo que seja muito mais saudável se manter em forma do que ter aqueles 10 kilos a mais. E não, não digo pela beleza ou feiura da barriguinha ai na frente, ou aquela gordura de lado, digo pelo Colesterol alto, pela Diabetes e tantos outros problemas. Também concordo que a obesidade seja um grande male do nosso século, crianças com menos de 6 anos obesas é algo alarmante. Mas aqui não quero falar sobre os extremos do sobrepeso ou da magreza, da saúde e da nutrição, a questão é o psicológico, o social, esta neurose pela magreza que nós mulheres temos.
Pra ser sincera, não posso e não tenho como falar de forma neutra sobre o assunto. Minha experiência nessa área de gordura, beleza e neurose com certeza não é das melhores. A bulimia já me atingiu, como tantas outras meninas. Acho curioso ouvir algumas pessoas conversando sobre este distúrbio. “Ela vomita porque se acha gorda, pra emagrecer”. Pois é, o que essas pessoas não sabem é que “ela” não vomita simplesmente por “se achar gorda”, ela se vê gorda. E não, ela não enxerga no espelho uma barriga gigantesca, ou uma perna exageradamente inchada, ela se enxerga como é, como sempre se viu, mas crê com toda a certeza do mundo que aquilo que vê é negativo, é insatisfatório.
Uma vez me perguntaram “ Mas o que você vê no espelho ? É outra imagem ? “ – O que mais veria no espelho se não eu mesma ? Me vejo, e não gosto do que vejo. Sim, tem horas que gosto, tem horas que não gosto, e tem momentos em que detesto.
A grande questão em torno da Bulimia, da Anorexia, e de tantos outros distúrbios alimentares que atormentam pessoas diariamente é a necessidade que temos em nossa sociedade de agradar o outro. Passei a vomitar como um escape, como a forma que encontrei de colocar para fora a insatisfação comigo mesma, o pensamento é “ eu estar gorda faz os outros estarem insatisfeitos comigo, eu estar gorda ocupa um espaço ruim na vida das pessoas. ” Hoje, sei que o maior passo que dei, e que tenho que dar todos os dias é entender que, meu peso e minha aparência não tem significado algum na vida daqueles que vivem ao meu redor.
Sabem aqueles típicos desenhos americanos que costumávamos assistir quando éramos pequenos, ou aquelas novelas Rebeldes, Chiquititas.. Lembram-se da tal “gordinha”? Aquela que se enchia de balas, que os meninos não gostavam, que as meninas excluíam.. É, pode parecer um pouco clichê, mas esta tal “ gordinha” está por ai em todos os lugares, todos dias. E não, ela não é mais chamada de “ gordinha” por ter mais massa corporal que os outros, este apelido tornou-se sinônimo daquela que por possuir uma mísera diferença, torna-se excluída, julgada e mal falada.
Agora, já pensaram quantas vezes na vida uma pessoa vai emagrecer, engordar, emagrecer, engordar? Esta “gordinha” de 6, 7 anos, justamente por ser tão pequena ainda não tem a maturidade de compreender que o corpo muda, que a aparência muda, ela absorve a imagem de “ gorda, de não ser boa o suficiente para fazer parte do grupo” como uma identidade e imagem eternas. E mesmo que depois cresça, emagreça, esta imagem a compõem e fará parte de sua identidade por muito tempo.
Por isso, a Bulimia, é muito mais profunda que o desejo de emagrecer, é a necessidade de tirar por alguns instantes esta imagem ruim que temos de nós mesmas e que carregamos conosco sempre. O exemplo da “ gordinha” é só um em meio a tantos outros. A insatisfação com a aparência nasce de mil outros lugares, situações e fatores.
Uma pessoa não precisa necessariamente ter sido gorda ou ser gorda, para sentir-se como tal. E isso ocorre justamente pelo o que disse anteriormente, o sentimento de “ser gordo” para muitos, não é o sobrepeso, é a ideia de não estar bom o suficiente. Insatisfação esta que relaciona-se com tantas outras coisas, e vai entender porque bulhufas ( esta já uma missão para psicólogos) invade nosso cérebro, nossa mente e nosso coração bem nessa área do “físico”. O que quero dizer, para me fazer mais clara, é que até mesmo alguém que não consiga seu empego dos sonhos, tenha um certo azar no trabalho, pode associar tal insatisfação com sua imagem. É como um anzol em uma vara de pesca, ele chega, da uma beliscada ali na imagem que vemos no espelho, e “puuum”, dói.
Meu objetivo com este texto não é dar um relato de vida, muito menos discutir a minha experiência (apesar de saber que o relato de alguém que superou este triste male ajude aqueles que o vivem). Mas sim, quero mostrar o quanto aquele “olha a gordinha passando”, machuca, humilha. Pais e mães, avós e professores não devem ter dó de crianças gordas, são gordas sim, são crianças, e pronto, deixe-as. (Digo, a saúde deve sempre prevalecer, mas não as maltrate, não as julgue por isso, muito menos as trate de forma diferente dos outros). As crianças têm uma sensibilidade incrível e a infância marca, marca profundamente. Por isso talvez, tratar de males da infância seja um desafio tão complexo e difícil. E por fim, “deixe as gordas em paz”. Será que um dia, nos livraremos deste estereótipo ridículo de gordo como algo ruim ?