07/06/2013
Hoje aconteceu uma das experiência das mais interessantes que já vivi, narro a seguir:
Depois de um dia cheio estava esperando minha irmã na estação Butantã do metrô, ela havia se atrasado e teria que esperar 1 hora na estação, cansado de esperar resolvi sair pra tomar um ar. Do outro lado vi um carrinho de pipoca, com fome resolvi comprar um saquinho. Depois de tentar barganhar o preço da pipoca sem sucesso resolvi aceitar os 5 reais cobrados pelo maior saquinho. O vendedor era um rapaz jovem, moreno de bigodinho ralo e tatuagem a la Neymar no pulso; me entregando a pipoca disse ¡Gracias!, eu entrando na brincadeira perguntei se ele era estrangeiro, disse que era americano, depois da risada de ambos falou que obviamente não podia ser americano por ser moreno. Questionei dizendo que existem “americanos” morenos, ele interessado me pediu pra explicar. Em breves palavras expliquei que os africanos também tinham ido pra América do Norte e que a principal diferença é que lá a mistura foi menor. Me espantei com o comentário dele ao final de minha explicação, disse que eu era muito estudado. Na minha cabeça aquilo soou estranho, no meu mundo todo mundo sabia disso.
Entre um cliente e outro engatamos uma conversa, descobri que seu nome era Ricardo tinha 17 anos, nascido numa comunidade rural no sertão da Paraíba perto de Souza, veio aos 12 anos pra São Paulo com ajuda de um tio pra tentar a sorte, e há 5 anos trabalhava pelas ruas da cidade. Nisso já tinha pedido um chorinho de pipoca e ele enchido completamente meu saquinho, continuamos a conversa. Sua mãe tinha 12 anos quando ele nasceu e seu pai 54, não contou detalhes dessa relação mas pude inferir que não foi nem um pouco convencional. Mora em Interlagos com o tio, e com o dinheiro da pipoca ajuda nas contas da casa. Perguntei o que ele queria no futuro, disse que tava pensando em voltar a estudar ano que vem pra ver se consegue um emprego melhor, nunca teve um sonho profissional mas também não quer vender pipoca o resto na vida. Durante nossa conversa percebi que algumas vezes ele brincava com as moças que passavam, não de um modo tarado mas engraçado. Perguntei se ele não era comprometido, me confessou que tinha uma menina da comunidade em que mora, conheceu no forró e estavam de rolo, dei risada quando ele falou que ela tem 22 anos e trabalha como segurança no clube Hebraica.
Ele também perguntou várias coisas sobre a minha vida e se mostrou interessado nas respostas.
Já era 5 pras 10 e ele me disse que ia embora porque até chegar em sua casa ainda era um longa viagem, nos despedimos, ele apertou minha mão e com um sorriso disse:
– Sabia que nesses 5 anos que eu trabalho vendendo pipoca você foi o primeiro cliente que parou pra conversar comigo?
Voltei para a estação esperei ainda alguns minutos, chegando em casa folheado o Estadão passei pela página que tem a cruzadinha e alguma frase de alguém importante, li isso :
‘’Temos de ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade’’ – Madre Teresa de Calcutá
Ele se foi e eu fiquei pensando, esse rapaz me contou toda sua história e o fez de modo tão simples, leve, sem demostrar um pingo de decepção, aflição ou angústia por ter passado o que passou, contou como se contasse um história qualquer. Vi que por trás daquele vendedor de esquina existe um menino que como eu tem sonhos e ambições e o que nos separa são apenas as oportunidades que eu tive e ele não teve. E não por isso ele se sente injustiçado pelo sistema! Vive grato pelo que tem, algo que em muitos momentos eu esqueço! Veio o tapa na cara, vi como muitas vezes eu reclamo de barriga cheíssima, quantas vezes por muitíssimo menos reclamo e me sinto injustiçado.
É provável que eu nunca mais encontre o Ricardo mas nunca vou esquecer nosso encontro.
Tulio Andrade, ex-aluno da turma de 2012