sobre o tapete descansava o mármore negro
banhado em vinho e coberto de taças
e flores e coisas bonitas
e paz.
tocavam-lhe olhos profundos
de uma escultura com a pupila cavada
que o escultor achou melhor fazer em preto e branco.
as horas eram feitas de mel,
um mel azedo e já podre,
mas que ainda fluía como recém arranjado.
caíam as cortinas brancas ao chão
molhadas como houvesse chovido um temporal.
e caíam tão suavemente
que pareciam uma folha ainda verde a boiar no silêncio.
um livro aberto soltava ideias
que planavam no ar e fatiavam a imobilidade,
mesmo que em plena discrição.
o livro era triste.
cheio de pensamentos tristes,
que enchiam a sala vazia, mas também
enchiam os lenços de lágrimas pesadas,
lágrimas que perdiam seu sentido com o tempo
e deixavam todo seu significado perdido no vento
até caírem ao chão leves como o ar.
o tempo voava, mas não se percebia.
era um dia amargo, feio, desprezível.
e o menino pardo de olhos profundos
encarava no chão,
sob as flores molhadas de sangue,
o corpo estirado de sua mãe.
flávia odenheimer trevisan, 3b2