Em alguma região ao Norte, além das planícies congeladas, havia um lugar curioso. Um lugar cujo céu, permanentemente tingido de cores ardentes, como se crepitasse em chamas infindáveis, parecia pesado, sempre prestes a cair, sempre prestes a chorar.
Não que o céu estivesse constantemente nebuloso, uma tempestade sempre iminente, não, muito pelo contrário. Mas aqueles tons de laranja, vermelho e amarelo inspiravam pura melancolia, longe de serem detentores da leveza e harmonia intrínseca ao ciano que coloria outros longíquos céus. Tinham um quê de morte, sempre aquele presságio de fim. E era assim, rodeados por uma bruma de tristeza e abandono, sob aquele infinito véu queimante de mau agouro, que viviam os habitantes do País das Sombras Altas.
Tal nome tinha motivos evidentes: não era necessário um observador atento para que se notassem as longas manchas de penumbra lançadas por todos os habitantes e construções do local. As enormes e inquietas sombras eram invariavelmente incontáveis vezes maiores que os diminutos habitantes do País das Sombras Altas, de tal maneira que cada um daqueles pequenos seres se sentisse sob a constante opressão de sua própria sombra, que parecia sempre ser o real indivíduo, mãe e pai dos assustados nativos, mantendo-os sempre sob vigília constante. E então os moradores da região passavam todo o decorrer de suas vidas assim, ameaçados por aqueles sinistros espectros, silenciosos e onipresentes, como se já não bastasse a angústia exalada pelo céu de fogo.
E eis que, em fatídica ocasião, o negror que recobria o chão subiu aos céus, e todo o País das Sombras Altas foi tomado por aquela súbita e tirana escuridão, para o completo desespero de seus habitantes, aterrorizados ao verem as sombras, que sempre atormentaram suas vidas, tomarem todo o país, subjugando-os completamente. Era como se o fogo daquele terrível céu alaranjado que tanto lhes angustiava tivesse se extinguido repentinamente, dando lugar a uma realidade ainda mais aflitiva e tormentosa.
Houve muito choro, muita confusão enquanto densas lágrimas de puro terror, pesadas feito chumbo, molhavam profusamente o solo, mais escuro do que nunca. Lançaram incontáveis maldições àquele infinito dossel de ébano que se extendia sobre suas cabeças, e nada ocorria. Tudo indicava que os moradores do País das Sombras Altas estavam condenados a sofrerem eternamente naquela imensidão escura, chorando sob a enorme asa de corvo negro que agora dominava todo o lugar, até onde a vista alcançava.
Era como se estivessem sufocados sob o imensurável peso do escuro, apático e impessoal, completamente desnorteados no próprio lugar que sempre chamaram de lar. Sentiam-se presos, amordaçados, abandonados em uma solidão interior, como se cada coração pulsante estivesse agora inconsolavelmente vazio.
No entanto, não estavam terminadas as surpresas para aquele povo, e o destino reservara-lhes ainda mais uma peripécia. Pois eis que aqueles olhos, já enrubescidos de tanto pranto, arregalaram-se encantados ao virem o céu adquirir mais uma vez uma vaga tonalidade alaranjada, porém desta vez seguida de um inesquecível espetáculo de claror e beleza, enquanto tingia tudo de um delicado tom rosado, e finalmente de um belíssimo azul-claro, que aparentava ostentar em seu interior a própria essência da felicidade perfeita, irradiando alívio e tranquilidade em sua plenitude luminosa.
E foi assim, no País das Sombras Altas, que aquele mesmo povo que se desesperou ao cair da noite pôde finalmente se encantar com o espetáculo do nascer da aurora.
Lucas Sato, 1A1