Moro numa aldeia onde há uma montanha.
Enormes: a aldeia e a montanha.
Estudo numa escola de alpinismo para saber escalá-la.
Diz-se ser a melhor escola de alpinismo da aldeia,
a com mais bandeiras fincadas no topo.
Vivo, na montanha, subindo com ajuda dos instrutores estranhos.
Alguns instrutores são marcações, outros trilhas, outros setas.
Todos são tão claros para serem, perfeitamente, entendidos.
Sempre duvidei da fama da montanha,
sempre tive dúvidas quanto à beleza de sua vista.
Um dia, avistei outra montanha
[assim mesmo: simplesmente, vi
muito mais alta e inóspita.
Desci correndo e, correndo, fui ao seu pé.
[e nela comecei a subir
Estou, há um bom tempo, subindo esta outra montanha.
Nela, não há marcações, trilhas ou setas; há FLORES.
Flores dos mais variados tipos: tem uma flor que recita Machado
[com lágrimas no olhos;
tem uma flor aguda que fala alemão;
tem uma flor que carrega, sempre, mais flores;
tem uma flor negra com uma língua só dela e que “fala como quiser”;
tem uma flor engajada, militante! E de fortes convicções;
tem até uma flor que agradece sempre em voz alta;
e tem uma que diz “chega!” com muita veemência.
Essas flores fazem parte da escola em que estudo.
Mas são muito mais que isso.
Essas flores não indicam caminho algum,
essas flores adornam essa outra montanha.
Fazem-me ver, melhor, a montanha que não é a montanha:
mostram, a quem quiser ver, não a escalada, a subida, as rochas,
mas a VISTA, a melhor vista de todas as montanhas,
cada detalhe da sua beleza delicada e implacável.
Subo essa outra montanha, que tem três nomes: Aprendizado, Poesia e Vida.
Três nomes para a mesma coisa.
E as flores… as flores são a graça da montanha,
[dessas tantas que nos aparecem.
São as setas que visam a vista
E visam, tão belas, tanta beleza!
Pedro Brener, 3H1